top of page
Últimas: Blog2
Victória Novais

É sobre música, mas nem tanto

\\ ME OUVE!

Sem compromisso de nada, sem julgar nada, qualificar coisa alguma ou abordar nenhum assunto específico. Quero única e exclusivamente abrir espaço para que as minhas palavras e as músicas que eu ouço dancem juntas

Por Victória Novais


Flagrantes à beira-mar — Série feita pelo fotógrafo lituano Tadao Cern


Fiquei muito tempo pensando se eu deveria encarar a vida de escritora e começar essa coluna aqui na Frentes Versos, muito tempo mesmo. Pensei em todas as possibilidades, os assuntos, as linguagens, os formatos, tudo com muita calma porque sou do tipo de pessoa que anda devagar com a vida. Pra que pressa?, tem coisa que não precisa.


Comecei a cercar essa ideia lá pelo final de setembro, quando a edição de primavera entrou no ar e eu tive que escrever uma análise sobre o lançamento de um EP de última hora – o que por si só já é um fator extraordinário dado que minha função aqui nessa revista é de designer, ou seja, eu não escrevo.


Flagrantes à beira-mar — Série feita pelo fotógrafo lituano Tadao Cern

Mas enfim, eu não vim parar aqui, mesmo que como designer, atoa. Eu não escrevo para a Frentes Versos, mas eu escrevo sim, sou alfabetizada e dotada de certa capacidade intelectual para pôr em ordem uma série de frases que façam sentido, ou pelo menos tentem. Meu distanciamento com a escrita estava apenas no fato de eu nunca ter tido uma relação boa o suficiente com ela a ponto de querer ser escritora, sabe? Nunca entendi muito bem em que lugar isso estava na minha vida e nem qual era sua importância, se é que tinha.


Por isso eu fui pensando - pensando muito mesmo - sobre aquela matéria que fiz em setembro e todos os desdobramentos que ela teve na minha cabeça. Os dias foram passando, as perguntas foram ficando cada vez mais complexas e as respostas cada vez mais difíceis de entender; daquelas que você até pensa se não teria sido melhor não ter encontrado resposta nenhuma e ter ido fazer qualquer outra coisa, tipo o almoço.


- É a crise dos vinte e poucos, né minha filha?


- É, é sim.


Nem vou me estender nesse assunto por acreditar que quem está lendo isso já passou por essa crise ou, no máximo, está no mesmo barco furado que eu – e também porque não aguento mais falar sobre isso pra ser sincera. Sendo assim, acho que posso pular direto para algumas das conclusões nem tão concluídas assim que cheguei enquanto pensava muito e fazia muito também - porque a pessoa que vos fala não tem um dia de paz há meses.


Flagrantes à beira-mar — Série feita pelo fotógrafo lituano Tadao Cern

Vou começar explicando o que eu imaginei pra essa coluna e porque estou especificamente categorizando ela como uma “coluna musical” sendo que eu não tenho absolutamente nenhuma qualificação pra falar de música. E já posso adiantar que o ponto aqui não é exatamente falar de música, mas sim falar com música.

Eu gosto muito de música - como os outros 90% da população mundial - e digo de música mesmo não de um tipo específico de música, eu gosto de música e é isso, sem mais adjetivos. Eu também gosto muito de escrever, embora até pouco tempo eu achasse que eu não gostasse de escrever. Durante essa crise dos vinte e poucos, descobri que na verdade eu gosto bastante de escrever, mas escrever assim do jeito que vocês estão lendo agora, sem compromisso com a língua portuguesa, sem compromisso de final.


Escrever é muito mais interessante quando não se tem o compromisso de nada, quando você só começa a jogar palavra atrás de palavra no papel e torce para que tudo aquilo fique pelo menos legível quando você cansar de digitar ou a tendinite atacar.

Eu quero que essa coluna seja isso, entende?, essa coisa meio solta como uma conversa. Porque, quando a gente conversa, a gente não pensa nas burocracias da língua a gente só conversa. Não há compromissos em conversas, e é por isso que conversar é tão bom.

Eu quero que você se sinta conversando comigo aqui, mesmo que só eu esteja falando (risos). Não como numa mesa de bar porque eu não gosto de sair de casa, mas definitivamente uma conversa na sala de casa, equilibrando um alcoolzinho qualquer em uma das mãos e com uma musiquinha tocando no fundo em volume moderado.


Agora eu quero que você preste atenção na especificação da musiquinha tocando de fundo em volume moderado.


É essa musiquinha de fundo em volume moderado que faz dessa coluna especificamente uma coluna de música, e não poderia ser diferente. Mas também é importante que você perceba que A música não exatamente é o ponto central aqui, mas ela é indispensável pra ambientação de uma boa conversa que é o nosso objetivo. Às vezes o que eu escrever aqui pode estar muito longe da música que está tocando, mas às vezes eu posso escrever cinco páginas sobre o quanto me emocionei com o arranjo vocal de uma faixa. Não importa, percebe?


Eu sempre escrevo ouvindo música e acho que muitas pessoas fazem o mesmo. Quer dizer, não é que eu sempre escreva ouvindo música, mas o que eu estou ouvindo é muito importante pra produção dos meus textos – pode ser música ou não. Eu escolho a dedo aquilo que estará me acompanhando sonoramente enquanto escrevo, aquilo que vai me pôr no lugar de onde aquelas palavras precisam sair.


E depois de muito pensar, e de muito escrever outras coisas que não estas, me veio a vontade de criar um ambiente onde a música estará livre para interferir no meu texto se lhe convir. Sem compromisso de nada, sem julgar nada, qualificar coisa alguma ou abordar nenhum assunto específico. Quero única e exclusivamente abrir espaço para que as minhas palavras e as músicas que eu ouço dancem juntas. É música que puxa assunto e assunto que puxa música e no final será uma leitura rápida e talvez uma música ou artista novo pra sua playlist.

Hozzászólások


bottom of page