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Foto do escritorLia Petrelli

Viagem Antropológica

\\ ANTENA com Andressa Persan

O fato de mulheres viajarem sozinhas sempre vira motivo para excessivas preocupações, inclusive, não é algo que a sociedade contemporânea está acostumada a encontrar por aí.
Bahia, acervo pessoal de Andressa Persan.

Lá no Spotify você encontra a conversa que tive com Andressa Persan, jornalista apaixonada pelo mundo. Visões, sensações, experiências e aprendizados são melhor assimilados quando acontecem na pele, no corpo e nas andanças por aí.


Pedi para Andressa me contar um pouquinho sobre as viagens que ela já fez na vida, e logo no começo do nosso papo perguntei se faz sentido que a Antena Artística seja sobre esse assunto.


[03:29] Lia Petrelli: “Eu parto do princípio de que existem muitas formas de se fazer arte. Você considera que ir viajar também faz parte da arte?”


Andressa Persan: “Eu acho que faz, porque a arte faz parte da cultura. A cultura não tem uma definição por si só. Mas, pensando do que sabemos sobre cultura, a arte está ali. Quando você vai para outro país, outro estado – para qualquer outro lugar – onde você não mora ou cresceu, você está trocando cultura. Você está tendo experiências, recebendo e doando um pouco, também. Para qualquer lugar que você vá, percebem que você não é local. [...] Mas o que você acha?”


LP: “Eu acho que sim, também. É sempre muito notável.”


A partir daí, começamos a relatar experiencias nítidas de discrepâncias culturais, mesmo dentro do Brasil, por exemplo: o simples fato de paulistas caminharem rápido demais, nos entrega quando chegamos à Bahia ou ao Rio de Janeiro. O corpo é o primeiro que percebe e denuncia. Depois vem a fala, até porque, só treinando bem demais conseguiremos – talvez – disfarçar nosso sotaque, né meu, tipo assim, tá ligade?


Louvre - França, acervo pessoal de Andressa.

Para além de visitas específicas a museus ou instituições culturais, durante uma viagem, o conhecimento está por toda parte: andar na rua já é motivo de encontros interessantes com a arte, em si.


Bom, se você escutar o podcast, vai descobrir que eu fiz o colegial lá na Tailândia, e por isso tenho uma bagagem antropológica um pouco mais aprofundada sobre a Ásia – diferente da Andressa, que tem muito mais conhecimento sobre a Europa.



Logo que voltei para o Brasil entrei em contato com a Antropologia que, por definição de dicionário é a ciência do homem, ou seja, engloba origens, evolução, desenvolvimentos físicos, materiais e culturais. Todos os costumes corpóreos, psicológicos, raciais e sociais se desenvolvem de um jeito muito específico dentro de cada lugar. Inclusive dentro de bairros distintos – basta comparar o modo de vida de quem mora no centro e na periferia, por exemplo.


Bahia, acervo pessoal de Andressa Persan.

Apesar deste episódio ser principalmente focado em relatos de viagens, eu, de minha visão cultural, pude perceber inúmeras nuances entre tudo o que conversarmos (até porque eu mesma gravo e edito os áudios – e de tanto escutar, vou adentrando camadas analíticas sobre os assuntos que escolho conversar com os convidades).


Primeiro de tudo que Andressa é uma pessoa extremamente diferente de mim: jamais iria para lugares em que insetos são os habitantes naturais, coisa que eu procuro, propositalmente.


Enquanto prefiro descobrir o que tem dentro da Mata Atlântica, e dividir barraca com aranhas, ela prefere o conforto de um quarto de hotel, de preferência, longe de qualquer animal.


Num relato que não consta no podcast, Andressa me contou sobre sua estadia na França, onde ficou no bairro mais perigoso de Paris. “Foi ótimo! Eu encontrei o Brás da França!”, comentou comigo (caso você não seja de São Paulo, Brás é um lugar onde tem de tudo um pouco, por um preço extremamente acessível. Se você der um google em “feirinha da meia-noite”, você vai entender exatamente o que Andressa quis dizer com isso).


Paris - França, acervo pessoal de Andressa Persan.

Tudo seria muito simples se Andressa estivesse acompanhada, mas não é esse nosso caso: Gostamos de conhecer a nós mesmas enquanto estamos sozinhas, por isso, as precauções são outras, quando vamos a qualquer cidade pela primeira vez a prioridade são os pontos de ônibus ou metrô, e foi isso mesmo que ela fez, não sem antes perguntar a uma guia de turismo local quais precauções deveria tomar, que eram: Não pegue seu celular na rua, não encare ninguém, não fale com ninguém, recomendou que saísse e entrasse do metrô direto para o hotel, e vice-versa.

O fato de mulheres viajarem sozinhas sempre vira motivo para excessivas preocupações, inclusive, não é algo que a sociedade contemporânea está acostumada a encontrar por aí.


No Rio de Janeiro conheci Ula, uma mulher polonesa de 46 anos que viajava pela primeira vez por conta própria, e ficou admirada de eu, com 22, já estar fazendo isso. As primeiras preocupações dos familiares, normalmente, é de que vamos ter problemas caso não sejamos acompanhadas por alguém – geralmente eles nos indicam que chamemos amigOs.

Valparaíso - Chile, acervo pessoal de Andressa.

São pequenos passinhos que temos que dar para enfrentar a desconstrução que começa dentro dos núcleos familiares. Ah, por favor, tenha em mente que estamos, sim, falando de dentro de uma bolha social: não posso generalizar absolutamente nada por aqui, mas eu e Andressa temos a mesma idade, não temos um grande poder aquisitivo, mas partilhamos da conquista por independência. É como se nossa fome de conhecimento externo não pudesse ser saciada através do consumo de vivências junto com alguém. Nossos corpos precisam vivenciar a liberdade – ou pelo menos a que existe ao nosso alcance.

Durante a construção do podcast você notará como é que os pré-conceitos podem ser desmistificados quando entramos em contato com culturas diversas. Todo preconceito parte de uma ideia generalizada sobre o outro: “Todo brasileiro sabe sambar”, por exemplo, é o clichê que mostra isso com clareza. Perder esses vícios construtivos fazem os olhares serem cada vez mais curiosos e menos arredios quando vamos conhecer pessoas que nunca vimos na vida.

Aqui no Brasil o sincretismo religioso diz muito sobre a intolerância perante gostos diferentes, e eu e Andressa conversamos brevemente sobre isso, entendendo que países com unidades religiosas ou laicas (de verdade, não como aqui), podem ser enriquecedoras para a população local.

Bahia, acervo pessoal de Andressa.

Se eu fosse você, acompanharia o trabalho de Andressa, que está montando um site para encorajar mulheres a sentirem exatamente o que gostamos de sentir: a liberdade e delícia de caminharmos sozinhas.





Aperte os cintos, e boa viagem!

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