\\ TERCEIRO SINAL
Por Bruno Pernambuco
Uma Janela
Os discos empoeiram.
As chaves foram esquecidas debaixo da cama.
Um livro novo espera dentro do pacote.
Uma tarde cinza esparrama para dentro do quarto.
A televisão muda um canal.
As mesmas formigas de ontem passeiam no açúcar.
Três sons de backspace.
A rede não não segura a hortinha de tomilho.
Por um segundo pensa-se em organizar a estante.
Um cobertor sacode dentro do armário frio.
Os remédios estão alinhados.
Ainda se espera aquela encomenda de uma esteira retrátil
e entrar o dinheiro para um celular novo.
Até a surpresa ao virar as páginas parece pensada.
Pedaços antigos da lucidez emudecem.
Mistérios nas venezianas do outro prédio.
Uma garrafa de vinho foi esquecida sem rolha e vinagrou.
A massa que sobrou daquele dia continua esquecida no fim da geladeira.
Cores novas tingem a fruteira-
os cheiros confundem-se.
No armário, medalhas de natação.
Um anuário de outra pessoa envelhece.
A balança empoeira sem uso.
A porta está aberta, e a corrente de ar venta.
Uma tomada está desconectada.
Indecisão diante dos ovos e do queijo.
Uma camisa errante passou.
Uma chaleira pia em meio à surdez.
Eu estou fechado.
O dia lá fora
tem a precisão poética de nenhuma nuvem.
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