\\ ENTREVERES
Numa conversa de padaria, bem definiu a Valma 'Tem gente que pensa pela boca'
Por Matheus Lopes Quirino
No ímpeto de querer resolver algum conflito verbal ou não verbal, são poucos os homens que se mantêm calados. Ainda mais debaixo da linha do Equador, terra aclimatada por altas temperaturas e imigração espano-italiana, na prática, principalmente em cidades como São Paulo, não é difícil ver o sangue do povo subir, juntamente às temperaturas, culminando em calorosas discussões ou risadas incandescentes.
Sobre as ruas, onde muito se fala, muitas vezes sem pensar, contava à Valma, psicóloga afiada, uma história épica que envolve outra amiga, uma Italianinha cujo nome irei reter comigo para que, justamente, não recaia ao cronista a verve esquentada da ragazza. A desbocada da epopeia arrancou de Valma risos grandes. Lembrando episódios cáusticos que envolvem aquela cria Milanesa, antes de empanar a crônica para o leitor apreciar em outra deixa, vai aqui o mote do sincericídio – que seguira, abaixo –, disse Valma: tem gente que pensa pela boca!
Feriado. Marcão contava, meio cismado, da chefe sacana, a própria mulher que veste Prada do Brás e tem o diabo no corpo. Lá foi ele pedir uns dias de descanso, direito seu. “O que você acha do feriado...”, interrompeu a chefe “Adoro quando cai aos domingos”. Marcão, desgostoso, cuspia marimbondos naquela megera que lhe custou noites de sono, suor e lágrimas. Descendo o malho na mandatária, eis que, no fundo do bar, ele vê uma cabeleira branca que o faz torcer o nariz. Acanhado, Marcão, antes corajoso, só perdeu o cedilha e pôs-se a tremer.
Conjugal. No país dos conjes e conjas, é comum casais de longa-data se estranharem. Provocações tomam conta engordando – como os casais através dos anos – aquele morde & assopra que acompanha relações antes apimentadas. Enfezada com o marido e suas idiossincrasias, mulher de gênio forte, a esposa subia no salto para engrossar a discussão. Na defensiva, o marido tentou “Se você for embora, eu não vou conseguir, eu vou cair...”. Respondeu a cônjuge: “Cair, só se for nos braços de outra! ”.
Aplicativos. Escuto, cada vez mais, amigos contarem causos envolvendo aplicativos de encontro. Terra de ninguém, o suposto anonimato que confere a tela a quem está por trás dela acaba pingando uma dose extra de coragem naqueles que já as tem por lá estarem. Seja placebo ou óleo de peroba, eis o que escutei por aí. Em uma conversa fogosa, uma tal fulana fez um pedido muito simplório para um Don Juan que estava no lugar errado na hora errada. “Tira uma nude pra mim?”, ele respondeu “Claro, meu dá seu endereço, aí eu tiro tudo!”. A moça não queria nada sério.
Nesses aplicativos, que têm campos para preencher seu status de relacionamento, alguns usuários o preenchem na vã esperança de extrair daquele terreno efêmero de paixões virtuais uma única gota de amor sincero. Dizia o moço “Quero um relacionamento sério! ”, cafona, a amiga de rápido gatilho se esgueirou muito bem, “Comigo, só se for relacionamento divertido! ”. E nos casos em que não há procura alguma, onde os enviados ao chat estão por lá sedentos, foi-se uma pergunta a um rapaz conhecido “É ativo ou passivo”, ele, irritado, concluiu com um gelatinoso “Depende do pinto de vista”.
Cano. Dos muitos canos que a vida dá, eis que um dos mais complicados é o dito cano mesmo, aquele que passa por dentro das paredes de sua casa. Suspeitando de vazamento, dona Adelaide contou ao marido que, insistindo em resolver o problema, foi sucinto na resposta “Não encana, benzinho...”. Do cano para a cama, uma moça no ônibus reclamava de sua vida sexual para a amiga sobre a recente maternidade “A minha libido foi embora junto com a minha placenta”.
Sucintas. Gina, uma empreendedora de primeira, meio maluquinha, inaugurou uma lavandeira só para mulheres. Se chama Lava Gina. Seu Hilário, amante de Copacabana, morou a vida inteira na rua Hilário de Gouvêa, mas hoje está triste, Ofélia, a cachorrinha pequinês, se foi. Juninho, o mais novo punk da família, tratou de chegar ao jantar com os avós de camiseta rasgada. “É moda”, disse. A avó, surda, entendeu “Estou pobre”, “Te dou um dinheirinho para você comprar uma nova”!
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