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Os gatos, outra vez

Foto do escritor: Matheus Lopes Quirino Matheus Lopes Quirino

\\ CADERNO DE ANOTAÇÕES

A gata Marie foi o assunto da semana, era gata Marie para cá, para lá

Por Matheus Lopes Quirino


Um gato leitor, de Jean-Jacques Sempé (reprodução).

para Giovana Proença


Minha fixação por gatos transcende os próprios felinos. Quando tudo isso começou, há quase 2 anos, provei a mim mesmo que, assim como o machismo, é possível desconstruir uma superstição tão antiga quanto: gatos pretos dão azar. Notei que, tratando-se de gatos, sem querer entrar no mérito dos bípedes, lembro-me que em vários momentos, de paixão ou desamor, os gatos lá estavam, observando, rasgando como vultos as cortinas púrpuras da noite, acompanhando tomadas de decisões.


Eu e Vana estávamos voltando de um vernissage, depois de uma semana duríssima, olhava para a avenida enquanto ouvia a história do antigo gatinho. “Tive que castrar, porque...”. Daí, fizemos um código. Caso não estivesse à vontade, falaria a seguinte frase para não constranger ninguém. “Estou hoje igual o seu gato” (sem saco).


E a Vana, que conhece bem o andar dos gatos, certa vez arrumou uma, chamando-a de Marie. Quase francófona, aluna de outro amicíssimo, monsieur Radiguet, ela se apaixonou pela gatinha de rua que apareceu em sua casa. A gata Marie foi o assunto da semana, era gata Marie para cá, para lá. Já estávamos quase no inverno, até que veio a notícia do enxoval tardio.


“Era tudo rosa”, contou a Vana. Cama, toalhinhas, roupinhas, até sapatinho – para gato. Mas foi aí que a casa caiu – ou a coisa ficou preta, já que estamos falando de gato. Durante essas semanas em êxtase com Marie, a gata, por um detalhe que frustrou todo kit pet recém-nascido. “Tem pinto!”, disse a Vana.


Não demorou para Marie virar Pierre. Sendo gato o único arrependimento da mãe era ter comprado tudo rosa. Mas Vana é moderna e não se importa. Vana jura, não houve qualquer outra treta naquele processo de (re)nomeação. Não precisou fazer outro RG, protocolar ação nenhuma, operação de mudança de sexo. Nada. No Reino dos Animais, as coisas são bem mais resolvidas.

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