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O Futuro Está Distante [Lau e Eu]

Foto do escritor: Lia PetrelliLia Petrelli

\\ ALEXITIMIA

O apelo pela escuta ativa nos invade por completo quando nos deparamos com obras conceituais como esta, principalmente no mundo pandêmico.

Por Lia Petrelli

Arte da capa por Milena Magoga

O futuro não parece estar tão distante assim da atmosfera criada pelo projeto Lau e Eu, no novo EP O Futuro Está Distante, lançado sábado, 26 de setembro. O apelo pela escuta ativa nos invade por completo quando nos deparamos com obras conceituais como esta, principalmente no mundo pandêmico, onde todos nos desdobramos para encontrar um melhor jeito de funcionar dentro de nossas atividades.


Os sons que compõem o álbum ora nos levam para os anos 80, ora bem mais a frente, lá para 2000 e muitos. O lançamento do novo álbum começou dia 24, em conjunto com o curta-metragem que embala a atmosfera nostálgica e percorre o álbum inteiro.

A escolha dourada da paleta contrasta com o terrível futuro sem cores que podemos enxergar daqui.


A imagem é o proletariado, o trabalhador camuflado na finitude do dia a dia, se deparando com um triângulo luminoso, justamente a forma que ferve o pensar. É a arte que transforma o olhar; o mesmo proletariado está agora sob posse do objeto artístico e, assim, se iguala em pensamento.


É o triângulo que contorna a arte visual: a mais forte das formas geométricas.


É por dentro deste mesmo triângulo que o artista observa o futuro que ora aparece na tela, ora deixa de existir.


Ao fundo, escutamos:

“As sombras me vestiram, uma a uma.
E depois criaram os becos à minha semelhança.
Mas eu coleciono todas as luzes para compactuar com os astros.”

A pirâmide capitalista, o império do dinheiro que soterra cada e toda camada sutil da sociedade, como belamente descrito no manifesto lançado junto ao curta, que agrega escolhas conceituais e estéticas à produção:


7. A fronteira da representatividade é devidamente vigiada, cuidando para que as demandas dos grupos sociais não ultrapassem um limite tácito: é suficiente que alguns alcancem o "topo" e a esmagadora maioria esteja na base.

8. É um fenômeno estrutural de longa data, aceito e consolidado nos espaços culturais.

9. Está diretamente ligado ao modelo capitalista de produção. 

10. Por isso queremos propor uma nova ideia de artista.”

Lau e Eu realmente o faz. A começar pelo final do curta onde todos os apoiadores são mencionados ao som da faixa de mesmo nome, onde o som acompanhado por imagens de uma TV de tubo fala sobre assuntos de desigualdade específicas do Brasil anos 20, a mesma que se perpetua até hoje.



Não obstante, o artista traz parcerias musicais e visuais: o eterno preto e branco brinca de ter vida dentro das projeções imagéticas das faixas letradas por Carolina Sako, que constroem a própria cidade em reflexos dos próprios prédios em interação solitária e conjunta.


A capa do álbum ressoa em mim porque é a partir dela que se passam memórias construídas por distopias antigas que li quando criança. Hoje bailam, vivas, nas imagens animadas pela artista, em contraste as letras das faixas do EP.



Caso você, leitor, esteja habituado com São Paulo, perceberá a precisão com que Lauckson José descreve a cidade cinzenta. Ao longo das nove faixas, o mergulho intenso estica o tempo: menos de 20 minutos se tornam longas caminhadas pela cidade da garoa, por dentro das estações de metrô e por cima dos viadutos alarmantes, ao lado de amores egoístas e negociantes. Não se engane, o artista é de Aracaju, Sergipe.


Desde 2016 Laukson atua dentro de seu projeto Lau e Eu, apostando agora na junção de linguagens que, justamente, contrastam o título de seu novo EP.


O lançamento de O Futuro Está Distante conta com duas participações especiais: escutamos a voz de Laura Lavieri em “Se O Nosso Amor Fosse São Paulo” e a continuidade “Você Seria o Tietê” e de Julia Valiengo (Trupe Chá de Boldo) e Marcelle cantando em “Fiquei Ali Pensando”.


Estética e poeticamente prometido, Lau e Eu reformula o mercado artístico através de suas escolhas técnicas-sensitivas, na contramão da lógica vertical que a sociedade se acostumou.

Eu, que pouco entendo da técnica musical, só posso trazer a vocês as impressões que saltaram de dentro pra fora quando dei play e me deixei levar pelas músicas, navegando imagens imersivas lindamente descritas por sons de futuro: ao som de revolução, sim.


O álbum amarra faixa a faixa, necessitando do soar em looping para que todas as camadas sejam apreciadas linearmente; eu mesma vivi essa experiência: a partir da segunda escuta, as primeiras imagens que me saltaram a memória já haviam se tornado outras, juntamente com a atenção que se modificou a cada novo tempo específico de cada mergulho.


***


Trans-parente Como Sempre Foi (Part. Alex Santa'anna)

Se O Nosso Amor Fosse São Paulo (Part Laura Lavieri)

Você Seria O Tietê (Part. Laura Lavieri)

Fiquei Ali Pensando (Part. Marcelle E Julia Valiengo)

Seu Corpo Vermelho De Sol

O Futuro Está Distante

Ontem A Noite Eu Tava Muito Mal

O Futuro Está Distante Pt2

Amor Cê Me Fudeu


O Futuro Está Distante é um lançamento conjunto dos selos Matraca Records e YB Music.

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