\\ CRÔNICAS
aquele álbum foi o que me ambientou em Manhattan. Soava encantador, sem exageros
Por Giácomo Rollo*, Especial para Frente & Versos
Lembro-me como se fosse ontem que escutei pela primeira vez o álbum Night Lights, do instrumentista de primeiro calibre, o new yorker Gery Mulligan. A primeira faixa do álbum me conquistou como uma criança que é apresentada pela primeira vez a um Sunday caudaloso de chocolate na Häagen Dazs. Mergulhei naquelas idílicas faixas besuntadas por cornetas de jazz, saxofones e trompetes arrojados que mais pareciam velhinhos arranhando suas unhas em estofado caro do bar do hotel Plaza, de Nova York.
A propósito. Depois que o álbum saiu. Corri a uma loja de discos no estilo da Tower Records, se não me engano era na rua 73. Pronto: lá estava ele, o último exemplar de Night Lights guardado só para mim. Tinha seis dólares no bolso, comprei o disco por 5,50. Com o restante, tomei um sorvete caudaloso de chocolate com farofa de castanhas e tomei o metrô para o apartamento da minha amiga Corine, estava hospedado em sua casa naquele verão.
Havia chegado a pouco do Brasil. Não conhecia ainda a cidade, embora sua alma encantadora me remexesse. Andava para todos os lados, com meu (ainda hoje) inglês péssimo. Confesso que aquele álbum foi o que me ambientou em Manhattan. Soava encantador, sem exageros. Numa noite depois de voltar da Columbia – sabe-se deus lá como me aprovaram, ainda mais sendo estrangeiro e péssimo falante.
Escutei um som surgir do nada. De um bar desses que ficam até altas horas com fumantes e os pioneiros do movimento da contracultura de 1964. Na porta, para a rua, escutava algo parecido com a batida de Night Lights. Era um bar soturno, embora fosse caro. No dia seguinte voltei e um som estranho barulhento saída de lá. Entrei para conhecer.
Na noite do dia anterior o próprio Gery Mulligan apresentou-se naquele bar soturno que ficava na divisa do bairro com o quadrante da Columbia. Voltei pela rua 53 triste, mas esperançoso. Quando ingressei no mercado audiovisual, anos depois, surgiu a ideia de filmar a obra do homem. Abrindo o trabalho com Night Lights. Espero até hoje.
*Giácomo Rollo é filmógrafo.
Imagem/Reprodução
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