top of page
Últimas: Blog2
Foto do escritorLia Petrelli

Lamentando a segunda temporada de Sex Education

\\ ALEXITIMIA

Em resumo: Sex Education se utiliza de mulheres, mas não trata sobre mulheres.

Análise por Maria Olivia Aporia e colaboração de Lia Petrelli



Autoria do Gif: Victória Novais


Assisti a segunda temporada de Sex Education (Netflix) - e já tinha assistido a primeira e ficado, se não feliz, mais otimista pelos adolescentes da atualidade. Como aquele meme disse: "a minha geração assistiu Skins e deu nisso aí que vcs tão vendo kkkkkkk". Precisamos concordar que todo o clamor em torno da série, só foi possível porque fizemos vista grossa (completamente compreensível a empolgação ao lançamento descolado) pra coisas que poderiam muito bem ser melhor aprofundadas ou desconstruídas efetivamente. E quando digo "efetivamente" me refiro a furos ditos "progressistas" bem graves, mas que acabamos por contabilizar como pequenos descuidos e assim, a longo prazo, continuam a perpetuar lógicas problemáticas - o que quero dizer é que: engana-se quem toma Sex Education como uma novidade efetiva!


Na primeira temporada, foi preciso ignorar o fato de a maioria das cenas de sexo "descontextualizadas" que abrem os episódios têm em sua maioria o protagonismo e nudez de mulheres, ignorar a quantidade de personagens mulheres caricaturadas como burras ou fúteis e fazer um esforço enorme em aceitar o fato de que o princípio caricato das personagens (Otis o nerdão, etc...) vão sendo melhor elaboradas e recebendo nuances mais complexas de natureza psíquica, enquanto a personagem Maeve (a puta da escola que é visivelmente mais adultizada que os demais) percorre o caminho óbvio no discurso liberal a respeito do "feminino" e do papel limitadíssimo disponível às mulheres, ainda que em produções progressistas (e, no caso, por progressistas me refiro ao comprometimento com pautas libertárias e identitárias): a puta da escola em contrapartida - para apaziguar o julgamento conservador -, é inteligente e feministona, respaldada por sua "liberdade sexual". liberdade essa, inclusive, muito bem compreendida como maiores responsabilidades, uma vez que a puta da escola, inteligente, feminista e que aparenta mais idade (ou maturidade?) que os demais alunos vive sozinha, mora sozinha, não tem relação com seus familiares e etc... é sozinha em todas as circunstâncias e isso fica mais evidente no capítulo em que faz um aborto; ou seja: o aprofundamento na história de Maeve, acaba por reforçar os estereótipos simbólicos (e até mesmo freudianos) de uma permissão ainda muito machista à independência feminina…


Sobre a segunda temporada, já aviso de antemão que tenho ranço eterno do personagem principal, o "keridinho" Otis (esse personagem principal foi feito pra gente não gostar dele, tá?). Ele é a personificação e prova de que até o mais "sensível", "nerd", "informado e/ou preocupado, e disposto" e estereotipadamente menos atraente ou "viril" dos homens brancos héteros é profundamente escroto, misógino e egoísta. Enfim: por que estou lamentando a segunda temporada? Porque errou e perdeu completamente a mão! Os momentos de comédia (que conquistaram com leveza ao longo da primeira) tornaram-se verdadeiros pastelões (páreo soft American Pie); se na primeira temporada sugere-se que sexo pode ser divertido, nessa segunda temporada sexo virou, literalmente, piada.


Já logo nos primeiros 5 minutos do primeiro episódio, acompanhamos a nova fase de Otis: explosão hormonal, punhetas infinitas do ápice de sua puberdade retratadas como uma nova fase do, então, menino travadinho com questões ansiosas, traumáticas… num tom de conquista sexual e maior familiaridade de Otis com seu próprio corpo (corpo, e não prazer porque, como sugere o esquema da sequência: toda essa masturbação e gozo é impulsiva e emergencial em nível físico... e ok, retrato válido à fase) mas, dentro desses cinco minutos três são reservados para entendermos como o personagem está realmente no auge, a sequência se dedica pra finalizar com chave de "porra"; a introdução saudosa ao personagem principal com Otis e a mãe no estacionamento de um supermercado. Ele diz que vai esperar ali mesmo, no carro, enquanto a mãe faz as compras (um salve pra divisão sexual de trabalho e o reforço da função mãe - pra também render que ela é doutora em sexo, ela precisa, naturalmente, cozinhar e servir o filho). Acontece que Otis é tomado por uma excitação descabida (e ele verbaliza isso na cena: olhando pra seu pinto e advertindo que aquele não é o momento apropriado - situação que dá vida própria, separada da mente e do eu-masculino, ao falo). É aí que Otis vê uma mulher qualquer (seu rosto não é objetivamente marcado pela câmera) vestida de modo "estereotipado educativo" e (como se caracterizam todas as construções em função da série) com um cachorrinho (aqueles de dondoca) no colo, roçando em seus seios sugeridos por um decote bem normal. Uma situação bizarra e fragmentada "pelos olhos do adolescente" que foca no movimento do cachorrinho em torno do seio na camisa cor-de- rosa, nesse sentido evidente que há um esforço (válido) em descontextualizar a excitação de Otis da realidade, mas acontece que nosso adolescente masturba-se ali, diante daquela cena, e a mãe de Otis retorna no carro na hora H, quando um jato de porra fica estatelado escorrendo quente no vidro do carro.



Ok, roteiristas e diretores, ficou suficientemente claro que o ansioso Otis finalmente está gozando compulsivamente, que ele superou as questões referentes a gozar e que os hormônios da puberdade são um avalanche, uma loucura total. Na cena seguinte, a mãe de Otis (Dr. Jean, sexóloga, terapeuta sexual), retoma o episódio constrangedor com o filho e reforça que aquilo não só não é bacana e bastante íntimo mas como, também, o lembra que isso é um crime - legalmente falando. Ótimo. Era o mínimo. Mas não me parece que foi o suficiente, e o motivo do porquê essa conclusão da sequência não está suficiente diretamente ligado ao fato que ocorre no terceiro episódio com Aimme. A personagem está indo pra escola, de ônibus, com sua jeans preferida e um homem aparentemente "comum" (fala reforçada por ela no quinto episódio) sorri pra ela e durante a viagem bate uma punheta e goza em sua jeans. A situação bem que se aproxima bastante com a cena de abertura do primeiro episódio né? Enfim, Aimme chega na escola reclamando de ter tido sua calça preferida suja e de como aquilo aconteceu com ela, neste ponto a série acertadamente se intenciona a abordar a problemática, mas se reduz a ficar entre o dilema da cena e a realização da personagem que foi vítima do crime. A maneira como Aimme vai entrando em contato com a gravidade do ocorrido é norteada por Maeve e tem seu ápice quando se abre para outras meninas da escola sobre seu medo de pegar ônibus ovamente: que não consegue mais entrar no vagão, que tem usado roupas mais cobertas, etc.


Bom, no primeiro caso, a punheta de Otis no estacionamento, temos 3 minutos anteriores que constroem uma defesa gigantesca a tal ato do personagem, desvinculando de seu controle seus próprios impulsos, desvinculando sua excitação de reais desejos para retratar a puberdade conquistada (e acho que por isso o cuidado pífio de manter a punheta pública de Otis em um carro particular com o vidro separando o gozo e a cena). Entretanto, acontece que ainda assim, a sequência inaugural acaba por ilustrar e construir um repertório perigoso, que numa máxima, fortalece a ideia de que o instinto masculino é incontrolável e ainda utiliza-se da puberdade como trunfo do descontrole ou bom-senso (e numa sociedade em que homens adultos são tidos como moleques, esse argumento me parece ser bem útil em prol da estrutura machista: demoram mais para amadurecer? Não amadurecem nunca? ou Nem precisam?). Essa lógica toda é fundamentalmente a mesma que autoriza assediadores e estupradores e razões agressivas da masculinidade em todas as idades. Ou seja: o que ocorre com Aimme é fruto da educação sexual que Otis reproduz/representa. É este pensamento, essa formação e essa advertência branda que dá permissão interpretativa para estupros - e vamos combinar, "importunação sexual" é uma patifaria tipificada em lei, o nome disso é estupro público.


Realmente, é muito bonita a construção e resolução do episódio traumático de estupro público que Aimme sofreu com todas as garotas da escola dando suporte e pegando ônibus juntas para ela enfrentar a insegurança que a tomou. Um afago bastante real. Mas vejam só: essa resolução/superação fica por conta independente e autônoma de mulheres para mulheres? O problema foi lidado e resolvido apenas entre mulheres e sem maiores responsabilizações. Concordo que em debates acerca de questões feministas, os homens devam mesmo apenas ser ouvintes, mas, na hora da prática, da transformação cotidiana que é romper com padrões introjetados a todos e em todos os gêneros (fluidos ou não), é imprescindível que a tarefa e luta seja realizada por todos - isto é: tão fundamental quanto a escuta, é a responsabilidade compartilhada. Elas por elas é legal, bonito e potente - emocionante e até inspirador. Mas na prática, na lógica que inclusive se apresenta à comunidade em que a narrativa da série se faz propositiva (considerando a releitura de Romeu e Julieta com eroticidades alienígenas de Lily, a declaração pública de Adam para Eric e o próprio tema central, os conselhos e conversas sobre sexualidade), por que esses dois casos de estupro público e suas resoluções ficam apenas entre nós mulheres? A punheta de Otis é o pretexto do estuprador de Aimme!


A série perdeu uma super oportunidade de encarar com responsabilidade a temática (porque foi pela culatra a relação entre os dois casos, sim). Seria mega interessante se, por exemplo, Otis ficasse sabendo o que se passou com Aimme, abrindo margem para:

1) Otis iria querer ir atrás do estuprador de Aimme e falar várias coisas didáticas pra ele? E aí pensarmos sobre o fenômeno "de homem pra homem" que é só onde há escuta.

2) Se outro personagem mais "viril" soubesse, ele iria bater no estuprador? E aí poderia se discutir a masculinidade e o suporte que um homem saudável pode prestar.

3) Otis ou qualquer personagem homem teria tomado partido de apoiar Aimme por que ela é objeto de cortejo/desejo deles ou o namorado seria o único a se revoltar efetivamente com o ocorrido? E aí poderia se abrir o debate sobre a decisão de, na maioria das vezes, mulheres manterem estupros em segredo num silêncio entre a humilhação e a intimidade.

4) Otis ao saber do ocorrido com Aimme se lembraria de sua punheta pública no estacionamento e constataria, sem dúvidas, que ele é um merda?


"Sim, foi realmente intencional mostrar o comportamento do Otis se masturbando no carro, porque é realmente assim que alguns fetiches começam a acontecer, ainda mais quando rola um constrangimento (vindo da própria mãe testemunhar, deveria ser mais gritante o fato dele ser incapaz de reproduzir o prazer depois do episódio, mas isso não acontece). A maioria das pessoas que tem esse tipo de fetiche são homens (por que será?) que são totalmente incapazes de se aproximar dos seus próprios desejos sexuais." Lia Petrelli

Pontuado esses dois casos, ainda fico lamentando e me questionando: na farmácia, quando Otis vai comprar PDS para Ruby, com quem transou e não acham mais a camisinha (advertência aqui por perderem a oportunidade de contar pros adolescentes que às vezes acontece de perder camisinha dentro do corpo feminino e que é preciso fazer uma busca depois se for o caso), a balconista da farmácia adverte que não pode vender a pílula para ele porque ele não tem vagina. Isso é uma lei inglesa? O formulário que Ruby responde faz parte do protocolo da lei? Acredito que sim, né. Mas fiquei marcada pela cena que coloca em xeque a compreensão da exposição e vulnerabilização (ainda que exprima a faceta de saúde pública naturalmente abrangente a questões sexuais) da sujeita mulher em espaço público - e como talvez essa discussão indireta que a série tenha timidamente proposto é descaracterizada e roubada/confundida pelas exclamações e interferências de Otis (o machinho) também em âmbito público.


Além disso curiosa de porquê tão mal explorado, o fetiche incrível de Lily (que é validado apenas como licença artística no grupo de teatro da escola). Por que tanta pouca dedicação sobre a vaginose de Lily e perder a chance de falar sobre sexo sem penetração e, apenas, solucionar sua questão na trama com um plano da câmera a sugerir em tom de conquista:um dildo (fálico) de tamanho maior. Me parece que a série está mais interessada em lidar com fetiches utilizados como alívios cômicos ao longo de todo o roteiro - e adivinha, quem são a maioria de sujeitos com fetiches utilizados a serviço dessa desconstrução? Mulheres, como a Olívia por exemplo - que não tinha fetiche nenhum e na verdade tava preocupada com pasmem: olha que moderninha essa série - o estereótipo esperado pra uma mulher: sua beleza e feição no momento do orgasmo.


Aponto essas problemáticas para indagar o que suscitou meu incômodo geral: afinal, por que nos assuntos gerais a respeito da sexualidade, suas pautas podem ser ditas e elaboradas de formas claras (a exemplo o diálogo em que Eric deixa claro que se sente bem se vestindo do jeito que quer, os minutos de tela dedicados em relação a isso com o pai, as cenas dele se montando, os olhares enfáticos de julgamento na rua, o teor da agressão que sofre, a briga com Otis em que Eric verbaliza o que lhe aconteceu e o amigo que lhe faltou… ou o personagem Rahim que é super esclarecido, informado, desenha como fazer uma chuca e solta, entre várias frases prontas (bem equivocadas, inclusive) e seguras, como "se você tem vergonha de comprar camisinhas é porque não está pronto para fazer sexo", enquanto a respeito de pontos e temáticas diretamente ligadas às mulheres - a realidade até material e histórica de nós -, a trama sugere que se subentenda uma série de coisas?


"As conversas veladas que não acontecem nunca berram que tem muita coisa estranha rolando entre a comunicação das pessoas atualmente, por exemplo a Aimee que não consegue nem contar pra mãe dela o que aconteceu. Não é uma coisa fácil, realmente, mas deveria ser exposto na série como abordar essa conversa, já que estamos falando de "educação", certo?" Lia Petrelli

A carga mental e emocional das mulheres, ou a compreensão das questões, segue sendo esperada como ganho secundário na trama? É preciso que se interpretem as coisas a respeito das questões "femininas" pois essas não são ditas (e nem construídas) ou comunicadas imagéticamente de formas claras, objetivas e assertivas? Ah, pois bem, algo assertivo dessas pautas me parece que seria interpretado demasiadamente agressivo, né? Sex Education, uma produção que propõe-se a ser um produto audiovisual educativo/informativo - que preza e escolhe sim por emblematizar questões emergentes da sexualidade, das pautas identitárias, do corpo e do imaginário das gerações recentes de adolescentes e jovens (porque convenhamos a gente aqui da nossa geração no alto dos vinte e poucos é bastante limitado nesse papo todo, tanto quanto os adolescentes atuais) - consolida-se na segunda temporada com inúmeras lacunas de objetividade, clareza e palavras nas questões "femininas". Fiquei afim de contabilizar quantas vezes a palavra "clitóris" é dita num sentido de conquista masculina e não propriedade corpórea feminina. Afinal, por mais positiva que seja a descoberta desse orgãozinho do prazer pelos homens, enquanto encontrá-lo for uma obstinação, um prêmio aos homens… nossas bocetas e corpos ainda serão sobre eles e não sobre nós mesmas.


E aqui, por fim, cabe resgatar a construção da personagem Maeve e como, nessa segunda temporada, o "aprofundamento" da sua própria história e independência é transposta à solidão - com o aparecimento da mãe sem condições e consequências, barras pesadas que ela segura e decisões que toma. É que essa interpretação de que a independência está ligada diretamente à solidão (e à falta de estrutura familiar, financeira, etc) abre margem pra coroar mais um clichê machista: o ponto fraco é o amor. O amor romântico (com todas as baboseiras do pacote dessa criação que sabemos muito bem a quem serve). É claro, não basta o peso de ser responsável, independente e dar conta de sua própria lição de casa - e a dos outros também, literalmente inclusive - para que uma mulher possa chupar um cara no banheiro na sétima série e encare isso de frente depois de anos.


"Além do fato de Maeve ser interceptada pelo "vizinho bonzinho" só alavanca o patamar de que as mulheres realmente precisam de um homem pra conseguir fazer as coisas direito, e ele continua se achando no direito de deletar mensagens do celular dela por puro egoísmo - bem como um homem branco acha que pode, o tempo todo - não importa que ele tenha deficiência, isso não valida nada a questão" Lia Petrelli

A personagem, também, para confortar o machista que habita desde o roteirista até o telespectador, precisa se enquadrar em alguma fraqueza que a tipifica no secular "sexo frágil"- mesmo que este fato seja completamente incongruente com a clareza intelectual e capacidade emocional de lidar e resolver conflitos de todos os tipos e áreas construídas na personagem. Assim, a série perpetua a prática narrativa e simbólica também muito utilizada no enredo de bruxas e vilãs [mas isso abre outras elucubrações e fica pra um próximo texto]. Maeve, esclarecida leitora de grandes obras feministas, além de paralisada e tomada por uma insegurança absoluta em conversar diretamente com Otis sobre seus sentimentos e sobre como se relacionam, acaba por rivalizar com Ola por causa de um homem branco hétero patético (e a não ser que essa rivalidade se abrisse para uma discussão dentro do feminismo a respeito de raça entre Maeve e Ola - coisa que não aconteceu na trama, mas muito deveria ter acontecido), embora não exista a menor lógica que sustente essa escolha na construção da personagem senão uma cegueira machista. A "evolução" da personagem é um típico macete liberal para impor limites ao feminismo e perpetuar, ainda que de uma maneira aparentemente mais legalzinha, o lugar e a caixinha em que cabem às mulheres. Do romance, do sentimento de amor, que coloca toda a inteligência e autonomia da mulher em xeque, nenhuma escapa! Sex Education tranquiliza o esquerdomacho e aplica essa mesma lógica (bem próxima de reforçar os princípios da histeria feminina) com a *Dr. Jean (a educadora sexual da série Sex Education) que, no fim das contas, se consolidou nessa segunda temporada como uma mulher sem voz alguma e bastante culpada entre dilemas maternais e atordoada por questões românticas de uma relação em que ela, terapeuta, não é capaz de se comunicar com o namorado.


Em resumo: Sex Education se utiliza de mulheres, mas não trata sobre mulheres. A série não trata sobre nada além da autoestima fragilizada pela culpa branca-hétero-masculina que precisa se render-se em sí pra seguir em frente, igualzinha. Otis diz mil vezes "Não quero ser um babaca... Ah, eu sou um babaca!" e aí, ao fim da série, vem a validação de um homem de sua imagem e semelhança (só que mais velho e namorado de sua mãe) dizendo: "Você é um bom garoto". QUE???????????????????


Dito isso, imagino que possam vir a me indagar: “sim, mas a série não pretende resolver e nem ser perfeita... ela retrata situações reais, debatendo e propondo reflexões e soluções dentro da verossimilhança possível”.. me desculpem, mas discordo e isso me soa quase como desconversar a problemática dos estupros em GOT com aquela "mas naquela época acontecia assim mesmo", enquanto a série conta com, pasme, dragões. Tudo são escolhas e prioridades e, no caso da segunda temporada de Sex Education - ainda que, claro, haja um esforço e boa intenção em abordar e retratar temas e políticas a respeito das mulheres - fica bem clara a tendência (eu já acho que isso é um fenômeno mesmo) de bater um cartão liberal nas exigências feministas e, no resto do produto inteiro, contradizer e perpetuar a raiz das próprias exigências feministas que deram espaço em cenas anteriores. Ou seja: as falas emblemáticas, os acontecimentos positivos e de visibilidade feminina diante do contexto geral do produto são casos isolados e ofertados como um favorzinho (de alto retorno financeiro capitalista midiático), enquanto a parte maciça da obra consolida misoginia em todas as instâncias (a começar da construção das personagens).

Comentarios


bottom of page