\\ TERCEIRO SINAL
Percebi uma indefinição, e em mim um tempo fragmentado. Percebi um choro abafado, e mais alto se escutava uma impaciência.
Por Bruno Pernambuco
Percebi um aniversário penumbroso, sombrio e vazio. Percebi o plano de uma travessia que deu errado. Percebi uma flor que crescia na direção do cimento. Percebi uma ordem que era retratada com outras cores. Percebi um mal-entendido. Uma ponta de tristeza enquanto as panelas borbulhavam. Percebi uma úlcera, e depois um mal-estar mais profundo. Percebi um dia desligado. Um sorriso comum, que trouxe à memória a imagem de um outro sorriso passado. Percebi a difamação de um retrato.
Percebi a saída mais ao lado, e uma angústia terrível
seguida de uma calma terrível
terrível
entre um nascimento e um sumiço.
Percebi uma indefinição, e em mim um tempo fragmentado. Percebi um choro abafado, e mais alto se escutava uma impaciência. Percebi uma anotação que desaparecerá num caderno. Uma chance sendo dada. Um exagero de preocupação. Um gato com olhos tenros.
Percebi uma obediência ao mestre e uma revolta. Um decoro antigo que permaneceu. Uma vela que continha a noite. Ranhuras do tempo no desenho da capa. Uma remissão que velava o sofrimento. Os sapatos encharcados esquecidos.
Percebi uma pequeneza das coisas, cheia de significado. Percebi uma madrugada e uma eternidade. Me atentaram para o seu silêncio e para a precisão da palavra errada que dizendo o mundo o desfaz.
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