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Em Memória

\\ TERCEIRO SINAL

O noivo e os parentes descobrem juntos que estiveram no mesmo engarrafamento, a caminho do jogo, e pelo rádio escutaram que perdiam o mesmo gol.

Por Bruno Pernambuco

Bruno Ganz, como Dariel, em cena de Asas do Desejo, de Wim Wenders.

Não tinha a contar a não ser fragmentos. Uma cama, seguida de uma calma, seguida de uma certeza. Um fósforo que acendeu e apagou. Um pedaço de céu por onde passou um pombo, depois uma nuvem. Uma pintura clássica, repartida em três. Uma notícia chegou e deixou o pai assustado. As roupas de ginástica seguem no armário, nunca usadas. O pequeno furto passou despercebido. O noivo e os parentes descobrem juntos que estiveram no mesmo engarrafamento, a caminho do jogo, e pelo rádio escutaram que perdiam o mesmo gol. Uma caneca de chá esfria, deixada sobre a janela. Os pombinhos saíram do cinema com os olhos marejados - ela apoiava os cabelos pretos docemente no seu peito, ele tinha uma mancha de molho quase imperceptível na camisa xadrez. O diário ganhou uma anotação. A missa foi celebrada, os convidados vestiam máscaras. Um filho se queixou de um sonho em que as pessoas não tinham rosto. Um rapaz tirou os sapatos para caminhar na chuva até o próximo ponto. Do lado de trás do vidro uma moça desprendeu os cabelos, à frente dele uma senhora usou a florzinha que lhe caía por cima como marcador de página. Um estudante desceu do ônibus e se lembrou que não haveria aula naquele dia. Um velhinho chegou ao balcão da farmácia e pediu a dose errada do remédio. Fofocas oculares, afinal. Quem necessita de mais que isso é o autor, não são as histórias.


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