\\ POEMÁRIO
Francisco Gomes*, colaboração para a Frentes Versos
Lápide
Vou-me ao tempo
Dou-me a mim
E as voltas que o vento dá
dá de volta as idas que fui
Retorno-me aos meus mortos com a vivaz sabedoria d’antes
Sinto simplesmente o sereno na face
e despeço-me do ontem ao amanhecer o hoje.
ESSES OLHOS EMOLDURADOS EM MINHA MEMÓRIA
Esses olhos emoldurados em minha memória
persistem
insistem
em desafiar o meu olhar arredio e insone.
Amadeo Modigliani,
numa sexta-feira noturna, pintaria teu rosto tua cor teu corpo
teu todo
(sinuosa neutralidade no semblante):
perplexa esfinge em constante
“conquista-me ou desprezo-te”.
Esses olhos emoldurados em minha memória,
pulsantes pupilas felinas
– ferinas na mira –
buscam o inexplicável
o absurdo
o sentido em sentir
os últimos segundos da noite.
Segundos que nos restam,
que testam o inconstante gosto
insaciável do instante.
Esses olhos emoldurados em minha memória,
além da bela fragilidade perecível dos jasmins...
Os olhos...
Esses olhos,
assim como as flores,
denunciam o medo incondicional dos jardins.
Recolho-me
Recolho-me
contido em surtos
lágrimas arrepios do corpo
Recolho-me
ciente
das angústias escassez farta
infinita procura
Recolho-me
cada palavra cada gosto
cada nada em seu todo
Recolho-me
interminável ócio
acolhido pelos braços do tempo
O que aqui há
cá dentro
- profundo fóssil.
*Francisco Gomes (Campo Maior–PI, 1982). Vive em Teresina–PI. É poeta e músico. Autor do CD “Diafragma – Poemas em áudio” (formato físico, 2018; formato digital, 2020). Além de obras inéditas e em construção, publicou 4 livros, entre eles: Poemas Cuaze Sobre Poezias (FCMC, 2011) — 1º lugar na categoria Poesia do Concurso Literário Novos Autores/2008, através da Prefeitura de Teresina — e O Despertar Selvagem do Azul Cavalo Domesticado (Multifoco, 2018). Edita o blog Pulso Poesia. Tem poemas em revistas, antologias, sites etc. Dedica-se cotidiana e arduamente à poesia, num trabalho de pesquisa, leitura, contemplação e escrita.
Muito bom tudo aqui. Vc escreve lindamente
Fernanda Guitério