\\ POEMÁRIO
Por Bruno Pernambuco
Tolices d'alma
Quando olho o rio
entre nós pulsa um abismo.
Nossas diferenças são infinitas,
categoria nenhuma podemos dividir.
Infinitas, e eu pergunto, sem resposta, à classificação que me sobrou:
— “Qual delas é que nos distingue?”
Ele ri
Pode ser a velocidade com que passamos.
Ou o que somos por dentro-
eu, só a maior parte água.
Quem sabe o diabinho da noite nele não encontre chão para deixar pegadas e os poemas que ele esconde,
nascidos na hora em que as vozes são baixas, sejam inteiramente seus.
(Me convenço:
ele vive assim, sincero
e sem dívidas.).
Ele ri.
Poderíamos não ser tão distintos.
Poderíamos compartilhar mais que a distância. A língua dos seus peixes-
dizem que existe-
ele talvez não fale
talvez do mesmo jeito que um instante passa por mim
e o espanto dos meus seres conversa indecodificado.
Mas eu tenho quarta-feira depois da terça.
Tenho garrafa contendo a água, sapatos que amarrar, atraso para os compromissos.
Outra cara em uma foto antiga, palavras nas declarações de amor, cabeça e, dentro
[dela, pensamentos-
alguns que me assombram
como um aniversário que chega sempre a tempo de ser o último.
Tenho também o riso
naqueles momentos em que não devia.
**Foto Reprodução
Comments