\\ ARTE
Com grave acentuado, a performance saiu no ano seguinte em ‘Live in austrália', coletânea da época de sucesso instantâneo
por Matheus Lopes Quirino
Elton John está inescrupulosamente drogado. Sua voz, mais grave do que nunca. Senta-se ao piano, mas não só, ele sobe no piano, dança em cima dele com uma peruca escarlate à moda Tina Turner. Usa um terno sob largas medidas de estrelas prateadas, dá piruetas, toca guitarra também. Guitarrista? Sim, mas em apenas uma faixa. Este foi o cantor que se apresentou em Sydney em 1986. No concerto Tour de Force, que passou pela Austrália. Elton colocou a cidade de pernas para o ar. Quase foi preso, embebedou-se até quase perder o som das cordas vocais, insistiu até o fim e fez seu show mais antológico.
Dois dias de apresentações da performance que foi recentemente remasterizada. Um especial gravado na época pela rede de televisão australiana com dedo britânico, anos fora de catálogo, agora volta publicado no canal do cantor no YouTube, parte de uma série de shows memoráveis, como no Hammersmith Odeon e no Madison Square Garden. No final do Tour, Elton foi parar no hospital e quase perdeu a voz. Esforçou-se para além da sua capacidade. A cocaína o deixava com a sensação de invencibilidade, mas seus efeitos foram devastadores. Naquele ano, ele tirou um tumor das cordas vocais e, nesse lado sombrio de 1986, precisou repousar por um tempo. Não coincidentemente, o casamento com Renate Blauel (sua primeira esposa) era a fachada que o cantor vivia na época, esquivando-se de Rupert Murdoch e também do The Sun. O show de 1986 na Austrália foi o último momento grandioso da carreira do cantor na década de 1980. Depois, transtornado, ele atravessou um período de recaídas com as drogas e álcool, fim do casamento, máculas nos tabloides britânicos, até renascer em 1992, com o glorioso álbum The One.
No primeiro show em Sydney, com a Melbourne Symphony Orchestra, ele encarou Mozart, entoando clássicos dos álbuns Blue Moves e Madman Across The Water, como Tonight, The Greatest Discovery e Tiny Dancer. Mas a magia de entorpecer concentra-se particularmente na performance de Your Song. A melhor amostra de todos as versões da música. Não só ela, o show ganhou um cd depois da temporada. Nele, encontramos um Elton John mais grave. E por falar no álbum Live in Austrália (cujo show disponibilizado por completo esta semana, no Youtube do cantor, antes só se encontravam pedaços das performances em páginas de fans), a faixa Candle in the Wind foi a música mais vendida do século XX, sendo ela, nos dias de hoje, a que mais foi comercializada em cds e discos. Elton John homenageia sua amiga Lady Di, a princesa de Gales, morta em 1997 num acidente de carro em Paris.
Sem dúvida, as duas noites do show na Austrália devem ser vistas, compartilhadas e veneradas pela legião de fãs. Entre Mozart e Tina Turner, o brilho foi de Elton John, como sempre ao piano tocando com uma banda remanejada -- ele estava em litígio com alguns integrantes, mas lá estão Ray Cooper e Davey Johnstone, como sempre, seguindo o compasso nos embalos de sábado à noite, para brigas e calor do público.
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