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[Resenha] De Elena Ferrante, A amiga genial expressa conturbados movimentos da tetralogia napolitana

  • Foto do escritor: Frentes Versos
    Frentes Versos
  • 16 de abr. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de abr. de 2020

\\ LIVROS

Ambientada no fervor do pós-guerra, obra da autora italiana discorre sobre a complexidade de uma protagonista ilhada com suas complexidades

Por Rafaela Mancini, Colaboração para Frente & Versos

É de se esperar tremenda genialidade ao se deparar com a obra de Elena Ferrante, pseudônimo de uma suposta escritora italiana que publicou em 2011 a tetralogia, conhecida como Saga Napolitana, de A amiga genial, originalmente em italiano L'amica geniale. A partir do primeiro romance, a série se alonga em mais três livros de mesma dimensão literária, contando em ordem cronológica a vida de duas amigas desde suas infâncias até a velhice. Os volumes em seus respectivos títulos podem ser divididos em A amiga genial com infância e adolescência, História do novo sobrenome para a juventude, História de quem foge e de quem fica no tempo intermédio, e por fim, História da menina perdida, para maturidade - velhice.

A obra publicada de maior sucesso da carreira de Elena Ferrante teve repercussão mundial e se tornou série da HBO, My Brilliant Friend. A eclosão do romance não foi ocasionada exclusivamente pelo entretenimento do leitor com a trama, trata-se de uma literatura profunda, capaz de adentrar a reflexões psicológicas, sociais e políticas. É uma história próxima do completo: a partir da narração da personagem Elena Grecco, também chamada de Lenu, um bairro de Nápoles é explorado nas minucias que envolvem desde as condições rotineiras de quem ali habita, suas relações pessoais conturbadas, até ao bairro como ambiente formador de caráter dos italianos.

Após uma ligação, Lenu se revolta e resolve contar a trajetória da amiga Rafaella Cerullo (a quem se refere como Lila) junto à dela, emergindo o leitor em duas histórias complementares ao mesmo tempo que antagônicas. A narrativa se desmembra em dois focos, dividindo-se entre a vida de Lila, que toma proporções demasiadas grandes na vida de Lenu e a história da narradora. Em um relato sobre indivíduos que caminham sempre juntos, diversos são os combates violentos enfrentados pelas garotas, uma vez que, desde crianças, as amigas de infância vivenciam o contexto social pós-Segunda Guerra, rodeadas pela violência física e pelo machismo, junto à máfia, à pobreza e ao preconceito.

Embora uma série de romance ficcional, os fatos abordados se aproximam da realidade. Assim, os leitores se identificam com as personagens muito bem construídas, sentindo-se próximos e capturados pelas diretrizes de Lila, cuja dominância é estendida a aqueles que se deparam com uma personalidade forte e contagiosa. Quanto à Lenu, é impossível não se difundir com seu amadurecimento como pessoa, profissional e mulher (conforme as imposições e expectativas sobre este gênero) ao longo dos romances. O que as personagens sentem é passado rapidamente ao leitor: desperta os sentimentos de revolta, saudade e desejo.

Elena Ferrante trabalha em duas dimensões segregadas por uma linha muito tênue, que separa o conflito entre o indivíduo e o outro com quem se relaciona, o público e o privado, o bairro e o mundo. O leitor, então, transita de um lado para o outro ao se surpreender com a narrativa dessa amizade extremamente polar, a qual salva e também envenena o âmago humano.

A narrativa é articulada em uma conversação entre companheirismo e inveja, exigindo o posicionamento de uma figura individual como protagonista do drama, mas que terá que lutar sempre para se manter como foco de sua própria vida. É nessa disputa pelo primeiro lugar que as melhores amigas se descobrem quando se observam, brigam ou se afastam. Também se deparam com as relações hierárquicas que tanto influenciam suas vidas, além de experimentarem a dependência emocional e financeira na complexidade de uma vida tal como a real.

A tetralogia de A amiga genial traz ao leitor reflexões diversas sobre a esfera familiar e a vida pública, mostrando de maneira sedutora como os elementos sociais estão engrenados nas relações mais íntimas das personagens, como a amizade. É uma leitura da própria vida, mesmo que em um contexto específico, e que com certeza deixará uma marca nos apaixonados por muito drama. Passando pelas diversas fases da existência humana, quem se interessar pela emocionante narrativa de Lenu e Lila não irá se arrepender, e jamais esquecerá as duas meninas, as amigas geniais que conheceu (ou acha que conheceu) e que e passaram por sua vida após entrarem em contato com a tetralogia.

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TÍTULO: A amiga genial AUTOR: Elena Ferrante

EDITORA: Biblioteca azul

ANO:2015

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