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Quatro poemas de Raí Prado Morgado

\\ POEMÁRIO


Por Raí Prado Morgado*, colaboração para Frentes Versos

"Entries and Exits" (2019), de Jacob Brostrup.

das últimas lástimas do diário oficial


a forma como os jornais retratam a realidade

carrega um desespero transparente:

uma história sobre aquelas vezes

em que não se tem certeza.


meus chinelos estão gastos de cinco minutos de atraso:

caminhamos a cidade sem orientações de espaço

e isso sempre denuncia nossa maneira.


éramos jovens. não digo inconsequentes:

seja por madrugar conversa aos deuses,

ou pensar que um exemplo de prisão é a escola,

mas das que tentam controlar sua mente.


e de algum jeito ainda dizem

que se está posto que éramos jovens,

é certo que éramos inconsequentes.





ainda somos os mesmos e vivemos


I.

esta cidade se esconde três metros

abaixo dos bueiros afogados

em resíduos, marcha pelo progresso

imaginário

e ainda se diz

a capital do país

apesar de não oficial


II.

deitar nas avenidas e impedir

o caminhão de mover

a economia dos brasis

pelo simples prazer de incomodar

a indústria de notícias falsas


III.

caminhar em círculo pelas calçadas


as plantas dentro de casa

morrem todas

as falsas continuam com as folhas

intactas

mais clandestinas

do que as cápsulas de cocaína

na barriga de quem busca melhorar de vida

ou simplesmente foi coagido




slow ride

a Marília Rubim e Leonardo Galesi


I.

roubar os espantos do mundo

enquanto a linguagem dá saltos

ecoa como o cantar dos grilos

pelas noites de solstício

os risos de uma piada

meio Hermes e Renato


II.

dentro de cada um

existe um artista frustrado


a primeira música do guitar hero

que todo mundo conhece

e ninguém lembra o nome de fato





as manhãs trazem algo de novo

a Isabelle Watanabe


os pássaros parados nos postes

têm realmente

razão. você também está certa

ao observar estrelas

cadentes, que pouco se entendem

do despencar que seria sorte.


o canto é sempre parte do jogo,

mas a culpa demonstra

esse andar de menino

em que pouco escuto são:

os olhos não dizem nada.


louvado seja dionísio,

muitas as garrafas de vinho,

que deus perdoe esse jeito retido

mas agradeça o corpo que vive estrada.


a festa se estende em brasa,

desde a retina até o coração escrito.

entre o pêndulo e a rua,

me esqueci da falta.


***

*Raí Prado Morgado (Caraguatatuba, 1999) estudou Gestão Ambiental na ESALQ/USP, em Piracicaba, e edita a Revista Contempo. Tem poemas publicados em revistas e periódicos literários como Subversa, Vício Velho, Mallarmargens, Aboio, Pixé, Ruído Manifesto, Arribação, e Suplemento Acre, no Brasil, e pelo coletivo MásPoesia, na Argentina.

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