\\ LIVROS
Mensalmente, os jornalistas publicam uma pequena lista de livros de ficção e não ficção, de lançamentos a clássicos
Por Giovana Proença e Matheus Lopes Quirino
Retratos picotados
‘O Impostor’ é uma espécie de negativo picotado, embaralhado, cuja história vai se desenrolando por frames rápidos, ao passo que norteiam o protagonista. Acometido por perda de memória, o personagem principal é um tradutor já idoso que resolve partir a Itália com a mulher de férias, enquanto está às voltas com o passado do ente que, em outros tempos, defenestrou-se no vulcão do Vesúvio. No romance de Edgard Telles Ribeiro, a memória danificada se embaralha com a realidade, a salvação? Uma só: o afeto dos familiares.
O Impostor
Edgard Telles Ribeiro
Todavia
80 páginas
2020
Na jaula
Uma tensão percorre todo o cenário de ‘A Gaiola’, do mexicano José Revueltas, que durante dois anos foi um preso político no ápice da ditadura de seu país. Na breve novela, ele e seus companheiros são observados secretamente pelos carcereiros enquanto esperam por suas garotas. O fardo que é carregado, neste livro, é a tensão em questão. Sob os ideais que guiaram os jovens de 1968, o grupo é protagonista de um dos relatos mais contundentes sobre o cárcere escrito na literatura latino-americana.
A Gaiola
José Revueltas
Trad. Samuel Titan Jr.
34
64 páginas
2020
Clássico 1
‘A história da arte’ é a bíblia do mundo da arte. Escrito há exatos 70 anos, o livro foi um sucesso e teve dezenas de reedições mundo afora. Com tom amistoso e nada hermético, o livro é a obra-prima do crítico de arte E.H. Gombrich. Considerada uma leitura indispensável para quem debutar no tema, A História da arte é um registo histórico de como a sociedade evoluiu a partir do ponto de vista estético e cultural, atravessando eras da indústria cultural, ao abranger arquitetura, filosofia, história social e, claro, selecionar obras clássicas e modernas.
A História da Arte
E.H Gombrich
Grupo Gen
1076 páginas
Clássico dois
No ano em que completam-se 120 anos da morte do escritor Oscar Wilde, sua obra prima, O Retrato de Dorian Gray, também completa data redonda: 130 anos da publicação. Polêmico, o livro, inicialmente publicado em na Lippincot magazine, foi considerado imoral pela crítica inglesa, sendo duramente criticado ao mesmo tempo em que se tornava um sucesso editorial. Wilde precisou atenuar partes do romance por orientação de seus editores, vigorando duas edições no mercado, a convencional, com os cortes — única a circular mesmo depois de anos da morte do autor. E a original. Na edição bem cuidada da Biblioteca Azul, além do texto integral, sem
cortes, a edição conta com comentários do editor da versão inglesa, além de anotações de Wilde e reproduções fac-similares.
O Retrato de Dorian Gray
Biblioteca Azul
Oscar Wilde
Trad. Jorio Dauster
2020 (reimpressão)
352 páginas
Poesia portuguesa
Gonçalo M. Tavares se apropria de termos da filosofia em seu Investigações. Novalis, abusa da condensação de poemas, em diálogo não apenas com Novalis e o Romantismo, mas com a vasta tradição filosófica. Com toques do misticismo de Novalis, Tavares desdobra a aproximação com a filosofia, semelhante à do alemão, transitando entre temas como o homem, Deus, a vida e o amor.
Investigação Novalis
Gonçalo M. Tavares
Edições Chão da Feira
2020
Cancioneiro alemão
Hermann Hesse conta mito do cancioneiro alemão através da mítica figura do viajante Knulp. Knulp: Três histórias da vida de um andarilho" é o primeiro de três livros que a editora Todavia lança do ganhador do Nobel. Nas três histórias da vida de um andarilho, subtítulo e definidor do livro, Knulp é apresentado por seus encontros amorosos, amigáveis e espirituais.
Knulp
Herman Hesse
Trad. Ralph Manheim
Todavia
80 páginas
2020
LGBTQ+ 1
Amora (2016) adicionou a conquista do Jabuti, maior premiação do país, no currículo de Natália Borges Polesso. Amora proseia em torno dos relacionamentos lésbicos. Mais do que abordar a homossexualidade feminina, os contos são sobre mulheres diversas em suas vivências sentimentais, transitando entre o amor e seu feminino.
Amora Natalia Borges Polesso Dublinense 256 páginas
LGBTQ+ 2
Em O templo, Stephen Spender narra o as descobertas não só intelectuais, como físicas, do protagonista Paul, inglês que está de visita à República de Weimar. Em descrições minuciosamente esculpidas, o autor potencializa a figura do corpo masculino, emulando-o ora com esculturas gregas, ora com pinturas expressionistas. Spender dá a este corpo (templo) que tanto deseja não só pulsão carnal, mas uma aura de sacralidade, desvinculando da luxúria a devoção pelos contornos e formas do homem.
O templo
Stephen Spender
Trad.: Raul de Sá Barbosa
Editora 34
240 páginas
2019
Bônus da Estante - A editora Lote 42 lançou o livro de contos Quando o Sangue Sabe à Cabeça, de Anna Muylaert (veja a entrevista de Bruno Pernambuco com a autora aqui). Jia Tolentino foi traduzida pela Todavia, editora publicou coletânea de ensaios em Falso Espelho. Com biografia de Sontag, Benjamin Moser, recebeu o prêmio Pulitzer pela sua densa biografia.
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