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Egerton não está preocupado em replicar a figura John, mas sim em dar vida à verdade emocional da história do homem Reginald Dwight
Por Gabriel Solti Zorzetto
Em 2015, Taron Egerton era uma estrela em ascensão após o lançamento de “Kingsman: The Secret Service”. Porém, nos últimos anos, o ator provou ser um talento versátil, capaz de passear por drama e comédia com facilidade. ”Rocketman” - a cinebiografia do cantor Elton John - leva sua carreira a emocionantes novas alturas. Assim como a lenda da música, Egerton apresenta uma performance que define sua carreira e que merece ser reconhecida com o Oscar de Melhor Ator na próxima temporada de premiação.
Em primeiro lugar, interpretar uma figura cultural pop tão excêntrica quanto Elton John seria difícil para qualquer ator. Afinal, o público já tem uma visão de como o personagem deve parecer e soar. O problema é que os atores que se aproximam demais dessa imagem correm o risco de transformar seu desempenho em uma caricatura, e se destacam aqueles que quebram essa barreira, como Joaquin Phoenix em “Walk The Line” e Jamie Foxx em “Ray", por exemplo.
Exatamente por isso, em “Rocketman”, o diretor Dexter Fletcher escolhe uma abordagem oposta e abre a uma nova geração de fãs o legado de John.
É claro que o cabelo e maquiagem de Egerton o ajudam na recriação da aparência de John em sua juventude. No entanto, sua atitude, maneirismos e comportamento geral são mais profundos para capturar a essência do homem. Egerton não está preocupado em replicar a figura John, mas sim em dar vida à verdade emocional da história do homem Reginald Dwight.
Assim, os espectadores não estão assistindo Egerton fingir ser John - mas, sim, o John de Egerton como um personagem complexo por si só, que não depende da imaginação do público para manter os espectadores envolvidos.
O segundo grande motivo para premiar Egerton é que, em qualquer filme cinebiografia musical, a grande questão a ser tratada é a trilha sonora. No caso de “Rocketman”, Egerton realmente canta todo o repertório, o que é louvável. E, mais do que quão bem ele canta, Egerton impressiona com a maneira como ele faz isso.
Ao interpretar músicas clássicas e desafiadoras como "Your Song", Bennie & The Jets” e "Tiny Dancer", Egerton não tenta emular o timbre idêntico de John, mas reinterpreta essas canções atemporais para o contexto em que é usada no filme, amparado por arranjos coordenados por Giles Martin, filho do eterno produtor dos Beatles George Martin.
Inclusive, os números musicais de “Rocketman” foram compilados na trilha sonora oficial do filme, recentemente indicado ao Grammy Awards na categoria “Melhor Compilação de Trilha Sonora Para Mídia Visual”. Além de 21 canções gravadas por Elton ao longo dos últimos 50 anos, o cantor inglês compôs a alegre “(I’m Gonna) Love Me Again”, que aparece nos créditos.
O que pode atrapalhar Egerton na luta pelo prêmio
Em seu lançamento teatral em maio de 2019, os críticos saudaram Egerton como pioneiro do Oscar de Melhor Ator no próximo ano. Mas o burburinho de prêmios esfriou um pouco desde então, muito graças a outras célebres atuações do ano e igualmente favoritas como “Jpaquin Phoenix em “Joker” e Robert De Niro em “The Irishman”.
No entanto, a Paramount - o estúdio por trás do filme - ainda não está desistindo e tenta lembrar os votantes do brilhante trabalho de Egerton.
Para angariar prêmios, a empresa organizou recentemente uma exibição do filme no Greek Theatre, em Los Angeles, seguido por uma apresentação conjunta de Egerton e Elton John, algo que eles já haviam feito até no Festival de Cannes, quando o filme foi exibido pela primeira vez. Mas será suficiente?
Alguns especialistas estão convencidos de que a vitória de Rami Malek no ano passado por “Bohemian Rhapsody” também pode prejudicar as chances de Egerton. Isso porque, apesar dos elogios que “Rocketman” recebeu, a Academia pode hesitar em recompensar dois melhores atores seguidos por cinebiografias musicais.
Além disso, tanto a “Bohemian Rhapsody” quanto “Rocketman” concentram-se em ícones extravagantes da década de 1970 que lutam contra o vício e sua própria sexualidade. Se Egerton vencer, isso pareceria uma escolha preguiçosa da parte da Academia?
Por outro lado, o Oscar geralmente é atraído por histórias da vida real em geral. Enquanto as chances da “Bohemian Rhapsody” foram reforçadas por sua monstruosa bilheteria em detrimento de críticas negativas, “Rocketman” não provou ser tão divisivo entre os críticos.
Descobriremos quando as indicações ao Oscar forem anunciadas em 13 de janeiro de 2020.
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