\\ POEMÁRIO
Por Lucas Luiz, colaboração para Frentes Versos
AFEIÇÃO
A boca da mãe beatifica-nos, sua crença cristalina
desagua sobre os seus.
Os grafemas endereçados ao céu germinam do
caule inequívoco, alimentados pelos calos
das mãos – canais para rosas pastorais.
Desconhece, bem verdade, os autos no poema.
Nem sonha o trigo da beleza nessa
eucaristia fônica.
O mistério habita infinitas formas.
E apenas tamanha sutileza no gesto
salva-me diariamente, do acre gosto,
do sonho cru arrancado
ainda na raiz pela vida.
PENÚRIA
Despidas as máscaras,
o riso obsceno é
sempre o mesmo.
Nenhum festejar
a esmo – sopro,
lira, cítara esconde
a tácita verdade
das entrelinhas:
tateia-se superfícies,
nenhum coração
assombrado
aninha-se.
O HOMEM PÓS-M.
nestes dias onde apertados
os calos dos minutos
até o talo termina-se
num grandingasgo
como se um dia com
quarenta horas
fosse também insuficiente
falecemos bocados
escravos de nós mesmos
a espera de mais
CINTILAR
para Débora Pietraczk
Ofereço-lhe apenas a poesia.
A poesia guardada na palavrexata,
com seus ramos distendidos
nos dias, insistindo saltar
aos olhos, pequeno oásis
a espelhar constelações.
Ofereço-lhe o suprassumo,
fruto palavra-sombra,
descanso para tez: pelos poros
a fundir-se fiapos de oiro
do grande Sol da vida.
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