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Poemas de Lucas Luiz

\\ POEMÁRIO


Por Lucas Luiz, colaboração para Frentes Versos


"Amorpha: Fugue in Two Colours" (1912), de František Kupka.

AFEIÇÃO


A boca da mãe beatifica-nos, sua crença cristalina

desagua sobre os seus.


Os grafemas endereçados ao céu germinam do

caule inequívoco, alimentados pelos calos

das mãos – canais para rosas pastorais.


Desconhece, bem verdade, os autos no poema.

Nem sonha o trigo da beleza nessa

eucaristia fônica.


O mistério habita infinitas formas.


E apenas tamanha sutileza no gesto

salva-me diariamente, do acre gosto,

do sonho cru arrancado

ainda na raiz pela vida.

 

PENÚRIA

Despidas as máscaras,

o riso obsceno é

sempre o mesmo.

Nenhum festejar

a esmo – sopro,

lira, cítara esconde

a tácita verdade

das entrelinhas:

tateia-se superfícies,

nenhum coração

assombrado

aninha-se.


O HOMEM PÓS-M.

nestes dias onde apertados

os calos dos minutos

até o talo termina-se

num grandingasgo

como se um dia com

quarenta horas

fosse também insuficiente

falecemos bocados

escravos de nós mesmos

a espera de mais

 

CINTILAR

para Débora Pietraczk

Ofereço-lhe apenas a poesia.

A poesia guardada na palavrexata,

com seus ramos distendidos

nos dias, insistindo saltar

aos olhos, pequeno oásis

a espelhar constelações.

Ofereço-lhe o suprassumo,

fruto palavra-sombra,

descanso para tez: pelos poros

a fundir-se fiapos de oiro

do grande Sol da vida.


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