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Foto do escritorAndré Vieira

Coroa-de-cristo - José Ribeiro Perreira

\\ POEMÁRIO

Une après-dinée à Ornans, Gustave Courbet


Caso queira entender do que se trata essa seção de"PEDANTISMO", sugiro que entre aqui.


Da mesma forma, caso queira saber quem é José, aconselho a todos para começar por aqui.



"Findo aqui minhas últimas esperanças de ser aceito nesta 'família' que me acolhe de braços abertos. Aparece coisa certa do cinismo, própria do ceticismo, particular do cínico, mas te asseguro , meu querido amigo das horas vagas que me escorrem o tempo, não o é.

A vida, sobretudo, no âmago de amigos que ensaiam ser segundas, terceiras e quem sabe, quiçá, primeiras escolhas para "famílias do coração" é um poço sereno de tristezas mundanas. Nunca, mas nunca, em meus pesadelos mais nefastos e tormentos mais obscuros pude vaticinar uma morte tão sôfrega e tão lenta quanto os jantares de confraternização.


Deus o resguarde deste imbróglio que floresce nos meses de calor e chuvas. Embora se cultive rosas e colha-se cravos no fins de cada ano e nos começos fervorosos de cada década ainda por desabrochar no botão, eu lhe garanto, meu caro, é preferível a tarefa mais titânica, o ardor mais agudo, o sofrimento mais desesperador e ensurdecedor — daqueles que fariam os poetas melancólicos se revirarem nos caixões, pávidos de terror — do que sentar as nádegas gordas e empinar o nariz tampado, platinado com as euforias de outros bailes, num cafofo cafife, imundo pelo transmutar do ego lego e pela adornação piedosa da vaidade das pérolas de porcos.

Sua vida é triste? Seus anseios estão conetados à masturbação crônica e ao abilhamento pio da bile gerada em reuniões com chefes, desencontros em aplicativos, desventuradas depravadas em livrarias de shoppings à procura do último santo-graal da literatura moderna? É realmente uma pena.


De fato, é muito triste mesmo, é triste que minhas orelhas e meus olhos tenham que observar a tudo e a todos silentes, intrépidos pelo ar da noite e o cigarro de cravo e canela que atravessa à juventude de excessos e vaidades oníricas — um tempo hoje distante. No fim da noite, o veredito — já promulgado em seu despertar insólito — era certo: o encastelamento do corpo e da voz, o envenenamento da alma pelo álcool e, sobretudo, sobretudo, sobretudo, o entrelaçamento das mãos atrás da cabeça a fim de resistir à noite empreitada que durará o resto de minha vida serão o melhor entorpecente, senão único, que manterá minha cabeça no lugar, colocada no meu pescoço.


Um bj,

Originalmente, mensagem de WhatsApp recebida no dia 17/12.





Coroa-de-cristo


Banquete azedume.

Se lê na flor du buquê:

"Perfume ao ciúme".


José Ribeiro Perreira



(Créditos foto capa: Table de petit déjeuner, Felix Esterl)

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