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Foto do escritorAndré Vieira

Alvo - Héloïse Rossi Silva

\\ POEMÁRIO


Caso queira entender do que se trata essa seção de"PEDANTISMO", sugiro que entre aqui.



Preguiçosa, mentirosa e melindrosa; esses seriam alguns adjetivos que calhariam bem na personalidade de Héloïse, a enfant térrible do Glicério que, como soube há poucos minutos enquanto batia esse texto, acabou por pôr jogo nas persianas da casa da avó após de, de novo, ter faltado no trabalho e ter mandado às favas o vendedor de sorvete na porta de sua casa que, coitado, sempre confunde o picolé de pistache, o favorito da madame, com o de menta com chocolate.... desde terça, o pobre senhor não fala, nem respira sem soluçar lágrimas que se faz ouvir em todo quarteirão...

Filha de um francês boa pinta e uma italiana boa massa, Héloïse ferve no sangue uma curiosa mistura da indiferença napolitana com a pressa parisiense, um quitute exótico que se deslumbra desde que ela monta a rua e vem cumprimentar a todos: senhoras, mocinhos, velhinhos e velinhas com aquele irresistível sorriso de bochecha à bochecha e aqueles encantadores olhos azulinhos que tornam cada sopro sôfrego e cada riso bobo em êxtase; até que ela irrompe com aquela cólera que reverbera nos últimos anais do inferno: “O SENHOR QUE ME ESCUTE, SEU PULHA FILHA DA PUTA.


Coincidentemente, foi num desses ataques de nervos, onde o sangue borbulhava e a espuma jorrava pela boca ainda rubra, que conheci Héloïse. Ainda frequentava arduamente o centro da cidade por causa do trabalho e naquela manhã de março adentrei uma galeria qualquer em busca de uma bugiganga qualquer para dar pro meu irmão, que se queixava que “tínhamos nos distanciado” por conta de uma leve disputa pela última peça de sushi no jantar; foi aí que Héloïse deu seu espetáculo: visivelmente vermelha como bom pimentão italiano, a diabrete-capetinha segurava o menino da assistência técnica pelo colarinho da polo azul e repetia encarecidamente, como se fosse um mantra pra si mesmo: “OU VOCÊ ME DEVOLVE O COMPUTADOR OU O TOMO À FORÇA.”


Comovido pela triste sorte do funcionário da loja de laptops, boto as mãos no ombro da Héloïse, tento separar as mãos da menina sobre o pescoço do rapaz e ela me retribui a carícia me dando uma bolacha no rosto. Levanto, ainda zonzo, da bofetada e me deparo com a moça com o computador embaixo do braço me dando a mão para me levantar. Conto que sou jornalista, que tenho uma revista; de súbito, a diabrete muda o tom agressivo e nervoso, pede meu número de telefone e vai embora, sem mais nem menos; uma semana depois ela me manda esse poema.


Essas francesas...





Crédito foto da capa: Bords de Seine de Argenteuil; Édouard Manet

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