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[Resenha] O tempo entre costuras: a arte de (re)compor-se

  • Foto do escritor: Frentes Versos
    Frentes Versos
  • 22 de mar. de 2019
  • 2 min de leitura

Atualizado: 5 de abr. de 2020

\\ LIVROS


Fragilidade inicial emerge em uma protagonista forte, capaz de costurar-se ao longo do tempo


Por Giovana Proença


Em O Tempo entre costuras, Maria Dueñas compõe uma colcha de retalhos, tecendo uma combinação de história, guerra, amor e a alteração de rumos que esses elementos são capazes de provocar. A divisão do livro, em quatro partes, representa as reviravoltas na vida, outrora destinada ao pacato da protagonista, revelando a fusão entre particular e contexto, assemelhando-se às intempéries e instabilidades bélicas e políticas que cercam o romance.

Em meio a profusão ideológica de 1930, o futuro da jovem costureira Sira Quiroga é alterado bruscamente por uma máquina de escrever ao conhecer o sedutor Ramiro.


Acostumada e resignada com a possibilidade de um casamento seguro e tranquilo com o noivo, com quem mantinha uma relação sem romance, a moça entrega-se a paixão avassaladora por Ramiro, assim deixando Madri por esse amor que pensava ser a grande fortuna de seu caminho.


Partindo para Marrocos, o casal encontra a exuberância de culturas e vê-se em meio a um dos epicentros políticos e rota de informações durante a iminência da Segunda Guerra e a ditadura de Franco. Com o declínio do ápice do romance, a protagonista é abandonada por Ramiro, aquele sobre quem afirma que “se cem vezes tivesse nascido, cem vezes teria me apaixonado”. Assim, inicia-se uma nova fase para Sira, que pela primeira vez prova de independência, autonomia e emancipação, levando a evolução na maturidade da personagem na narrativa.


A partir disso, a jovem se reconstrói do abandono que desmoronou suas forças, conquistando um ateliê e colocando-se no eixo das grandes potências mundiais e seus principais representantes. Sira Quiroga, usando do nome de Arish Agoriuq, toma proveito de sua posição para tornar-se uma espiã na luta contra o fascismo que espalhava-se pela Europa.


A linguagem quase poética de Dueñas, com ricas descrições culturais e reconstituições de contextos históricos, leva a uma narrativa plena com misto de ficção e realidade. Essas conjunturas externas refletem na jornada de amadurecimento de Sira, cuja fragilidade inicial emerge em uma protagonista forte, capaz de costurar-se ao longo do tempo, sem receio da necessidade de trocar tecidos e linhas nas reviravoltas impostas por duas guerras e uma traição, nem de assumir uma identidade rumo ao futuro incerto.


***

TÍTULO: O TEMPO ENTRE COSTURAS AUTOR: MARIA DUEÑAS EDITORA: Planeta do Brasil

ANO: 2010

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