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Cantor americano apresentou sua última turnê para mais de 20 mil pessoas em Amsterdã
Por Gabriel Zorzetto, Especial para Frente & Versos
Turnês de despedida tornaram-se uma indústria própria e um momento único para fãs dizerem adeus aos seus ídolos. É o caso de Ozzy Osbourne, Rush, Elton John, Lynyrd Skynyrd, Joan Baez e tantos outros que recentemente produziram ou estão produzindo grandes shows dedicados às canções que os tornaram super astros nas décadas de 60, 70 e 80.
Dentro desse grupo insere-se agora um dos maiores nomes da música popular americana: Paul Simon, cantor e compositor com a sabedoria lírica e amor por uma ampla gama de estilos musicais que o tornaram mais um trovador poeta do que um simples rockstar.
No palco da arena Ziggo Dome, ao norte de Amsterdã, Simon não resistiu em sugerir alguma ambiguidade ao apresentar sua “Homeward Bound – the Farewell Tour” para o público holandês, na noite do dia 8 de julho. Depois de cantar “50 Ways To Leave Your Lover”, brincou: “Eu menti sobre o final. Eu estava apenas tentando aumentar os preços dos ingressos”. Então ele recuou: “Estou brincando. É isso mesmo. This is it”.
Seu setlist de 25 músicas poderia ter sido apenas de hits, afinal ele tem mais do que o suficiente em seu catálogo. No entanto, Simon mescla suas preferências idiossincráticas às populares entre os ouvintes, e sempre aprimorando canções que ele poderia facilmente ter entregado como cópias das versões originais.
A escolha do set mostra que Simon quis explorar momentos de toda sua carreira – desde os clássicos da era Simon & Garfunkel como “The Boxer” e “America” aos hits oitentistas “You Can Call Me Al” e “Late In The Evening” – e até mesmo as recentes “Dazzling Blue” e “Rewrite”, do ótimo “So Beautiful Or So What” (2012).
Com uma banda de 16 integrantes, Simon tem ao seu redor um arsenal instrumental que pode incluir, quando necessário, um acordeão de botões, um flautim, um tambor de barro, uma trompa francesa, um piano preparado ou uma mini-orquestra de cordas. Apesar da imensa tela de vídeo ao fundo do palco, os principais efeitos visuais da noite foram dos arranjos e das orquestrações que, por exemplo, proporcionaram magistrais versões das obscuras de “Rene e Georgette Magritte With Their Dog After The War” e “Can’t Run, But”.
Aos 76 anos, o trovador não esconde seu amor por “Graceland” (1986), seu mais comercialmente bem sucedido álbum de estúdio. Ao todo, são apresentadas seis canções do icônico disco que incorporou o som sul-africano ao elegante pop de Paul Simon.
O ‘brasileiro’ “The Rhythm Of The Saints” (1990), gravado em grande parte nas terras canarinhas, também teve um bom destaque, com quatro canções. Antes de tocar o hit óbvio “The Obvious Child”, Simon fez questão de mencionar o país: “Essa canção eu gravei no Brasil, em Salvador, na Bahia. Fiz junto com um grupo chamado Olodum”.
A conclusão de uma noite especial vem quando, depois de outro punhado de sucessos, Simon retorna especialmente sozinho – acompanhado apenas de um violão – para a última música da noite: “The Sound of Silence”.
A canção que lançou Simon & Garfunkel na estratosfera na década de 60 deixou uma áurea mágica em torno dos holandeses, que ali entoavam em uníssono as palavras do profeta.
Depois que Simon saiu do palco e os aplausos da multidão diminuíram, saí da arena em silêncio e voltei para o hotel com a certeza de ter presenciado um momento histórico e diferente de tudo que já vi.
*A “Homeward Bound – The Farewell Tour” continua até o dia 22 de setembro e está programada para terminar com três shows na cidade de Nova York.
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