\\ ARTE
Pro malandro, Chico, nenhum prêmio do mundo lhe é digno, todos o merecem….
Por André Vieira
Chico Buarque desfilando na Mangueira, 1987. Foto: Evandro Teixeira
Não é surpresa a ninguém que Francisco Buarque de Hollanda, nosso conhecido Chico, tenha sido o ganhador do Prêmio Camões – em sua 31ª edição – deste ano por suas contribuições “transversais” à Língua Portuguesa. Também não assusta que o sambista, compositor e multi-instrumentista tenha aflorado no campo da prosa, da poesia e do teatro, sendo responsável por publicações que tanto revelam o autor em busca pela forma prosaica, quanto obras que levantam questões próprias da universidade da literatura, notoriamente Budapeste (Cia. das Letras, 2003) e Leite Derramado (Idem, 2009).
Agora, o que surpreende são as inúmeras comparações a (Bob) Dylan; ao fato que ambos, como imponentes ícones culturais e sociais, não poderiam ser galardoados por suas contribuições às respectivas línguas, uma vez que estes não são em essência escritores. Mas que bobagem! Querer reduzir, enquadrar, encaixotar autores e suas produções a espaços tão ínfimos e a conceitos tão rasos é abafar o estrondo que seus atos, palavras e concepções de mundo transmitiram a gerações e gerações.
É empoeirar a prateleira de histórias costuradas, amarelar a coletânea de versos musicados, roufenhar a voz que relata; em suma, limitar a cultura à própria cultura — não seria contraditório?
Afinal, para um arquiteto nato da lusofonia, um artífice lírico de um Brasil de vozes dissonantes: bastião – mesmo em exilo – durante os Anos de Chumbo e de censura, assim como embaixador e baluarte em momentos de (re)construção democrática, o que importa se a palavra é cantada, escrita ou gritada? Pro malandro, Chico, nenhum prêmio do mundo lhe é digno, todos o merecem….
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