\\ ARTE
A arte de Tom é explicita, exagerada, mas também fiel, quando fala dos homens másculos que ainda são padrão no meio, mesmo no século da diversidade
Por Matheus Lopes Quirino
Policiais, marinheiros, militares, homens da construção civil, lenhadores, motoqueiros, boxeadores. Estas são as figuras abundantes nos quadrinhos de Tom of Finland, o icônico cartunista que saiu do leste europeu para o mundo, afamando-se com traço rijo e homoerótico, cujos homens torneados ganharam os Estados Unidos do pós-guerra e depois o mundo. Influenciado pelo áspero ambiente da guerra, Tom, pseudônimo de Touko Valio Laaksonen, chegou a servir, mas logo passou a se sustentar tocando piano em bares cosmopolitas de Helsinki e a fazer peças de publicidade para jornais e revistas.
Em 2020, completa-se 100 anos do nascimento do desenhista e a sua fundação homônima prepara programação para comemorar a data emblemática com especiais em diversas plataformas. Revistas temáticas, bem como os quadrinhos em pocket books são relançados, segundo o presidente da Fundação Tom of Finland, Durk Dehner : “Celebramos este centenário para homenagear o que esse artista contribuiu para a humanidade. Tom dedicou sua vida, sua carreira artística, que durou cinco décadas, à visão de que os homossexuais eram livres para serem felizes e amar quem quisessem”.
Embora Tom tenha sim se emancipado como homossexual e trazido visibilidade para o meio, ele era um homem tímido, mantendo-se discreto dos bares e da cena gay de Helsinki. Ele fez o fiel retrato do homem viril e brusco, afinal, cresceu rodeado por lenhadores – sua arte homoerótica é influenciada por isso. Mas os pais o educaram com muito esmero, assim Tom cresceu apreciando música, clássica, literatura, artes plásticas e... desenhando.
“No dia 8 de maio, incentivamos todos a fazer algo bonito e brindar a Tom Tom por tudo o que ele criou e nos deixou em seu legado”, convidou Dehner. E, de fato, houve centenas de homenagens que se espalharam pelas redes sociais. Em 2017, o filme Tom of Finland, o diretor Dome Karukoski contou a trajetória do artista, que muito sofreu no começo da carreira por conta da marginalização da homossexualidade, até se tornar referência na arte gay.
Retrato de uma cultura que prezava o homem masculino como objeto de desejo, ativistas criticam os trabalhos, injustamente, pois o valor histórico é inegavelmente indelével. Tom foi um imigrante do leste europeu em Los Angeles, deu voz à comunidade gay quando, em 1973, teve seu trabalho publicado em uma revista de grande circulação nos Estados Unidos, com o pseudônimo Tom of Finland. Do softporn ao sujo, a arte de Tom é explicita, exagerada, mas também fiel, quando fala dos homens másculos que frequentam dark rooms, becos, saunas, curtem couro – vide a feira internacional da rua Folsom, em San Francisco, que celebra o fetiche –, e ainda são padrão no meio, mesmo no século da diversidade.
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