\\ ARTE
Toda MPB, pós João Gilberto, mesmo que indiretamente, foi influenciada por ele.
Por Matheus Lopes Quirino
“Vai minha tristeza e diz a ela, que sem ela não pode ser”. São estes os versos que abrem “Chega de saudade”, faixa arrebatadora do álbum homônimo, gravado em 1958 pelo cantor João Gilberto, que faleceu hoje no Rio de Janeiro. A informação foi postada nas redes sociais da família. João estava há anos recluso, morando no apartamento de um amigo, após ser interditado pela filha, Bebel Gilberto.
Criador da Bossa Nova, o músico teve influência do Jazz americano, do samba e do Blues. Expoente do samba-canção, ecoando por entre os arcos do bairro boêmio da Lapa, no Rio, João começou e se manteve sempre respaldado por voz e violão. Dono de faixas como “O samba da minha terra”, “Doralice” e “O pato”, ele não concedia entrevistas facilmente, tendo, em vida, falado pouco e cantado muito; era um homem retraído, quietinho, de hábitos modestos e requinte artistico. João cativou gerações, dentre elas os baianos Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia e Gilberto Gil, eles gravaram juntos diversas vezes.
Nos últimos anos o cantor havia rompido contratos milionários com gravadoras e cancelou sua participação em shows e festivais. João, dizia-se, estava cansado, comia pouco, embora tenaha nutrido dívidas, sendo pivô de uma polêmica batalha jurídica. Em 2018, o cineasta Georges Gachot lançou o bem-sucedido filme “Onde está você, João Gilberto:”, no rastro do livro do escritor alemão Marc Fisher “Ho-ba-la-la” (2018).
Toda MPB, pós João Gilberto, mesmo que indiretamente, foi influenciada por ele. João gravou com inúmeros músicos, de Stan Gertz a Rita Lee. Produziu centenas de álbuns, tais como “Chega de saudade”, “Brasil” (1981) e “Amoroso” (1977). Ele partiu de Juazeiro, na Bahia, ao Rio em 1950. Na então capital da república, sua voz “baixinha” e suave conquistou o mundo. Ele deixará saudades.
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