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Com novos episódios, ‘Alto Mar’ entrega bem menos do que pode
Por Redação, Frentes Versos
As séries espanholas conquistaram o mundo. Desde que a Netflix passou a comercializar em seu serviço de streaming produções populares na Espanha, como as da Antena 3, a exemplo, uma dupla de sucesso teve seu nome e trabalho valorizado no mercado audiovisual do estrangeiro, são Ramón Campos e Gema R. Neira. O currículo da dupla é robusto, com séries que retratam o começo do século XX, das de Velvet Collection a Tempos de Guerra. Os folhetins caíram bem no serviço como o sucesso Gran Hotel, acalmado pelo público e pela crítica, com atores em ascensão, como Yon González, a veteranos em ótima performance, caso de Concha Velasco, que levou o prêmio de melhor atriz pelo papel como Ângela pela Unión dos Actores (2012), no mesmo ano em que foi agraciada pelo Goya, pelo conjunto de sua obra no teatro, na televisão, cinema e como cantora.
Na sequência de Gran Hotel, que suscitou até um novelão depois da série, produzido pelo canal ABC (EUA), com outros atores, claro, outros nomes, mas mesma essência; outras produções tiveram lá seus problemas. Claro, orçamento, figurino, alguns atores que não se deram bem. Faz parte. Mas em geral, Neira e Campos fizeram cases, como a série As Telefonistas, que acompanha a vida de cinco amigas em busca da emancipação feminina, e recentemente Alto Mar.
Na contramão de Gran Hotel ou As Telefonistas, Alto Mar soa repetitivo. Repetem-se elementos já explorados anteriormente. Bailes de máscaras, policiais fanfarrões, corrupção, luxo, intrigas e segredos. Funciona? Sim. Mas é apenas um laquê barato, típico para fim de festa, pois o corpo ainda não esquentou e tem-se tempo para dançar. O espectador que não assistiu às produções anteriores da dupla certamente vai se impressionar: é o dramalhão que puxa, essa história repleta de chegadas e partidas, amores impossíveis, traições, mistérios e causos sobrenaturais até — típico do gênero que o público latino gosta, o chamado “novelão”.
E antes do navio afundar (aqui temos um spoiler), a pequena temporada lançada pela Netflix corre muito rápido. Não que não houvesse algo do tipo nas primeiras temporadas de Alto Mar. Havia, mas todos elementos conversavam entre si, fazendo com que o final parecesse caminhar para algo redondo, quando de repente: bum. Estoura uma bomba e o leitor se pergunta: “Mas para que isso aí?”, "acho que isso não faz o menor sentido" .
É exatamente o que acontece nos novos episódios.
Ao que tudo indica, os cinco episódios que foram disponibilizados pela plataforma fazem parte de um final repartido — como em As Telefonistas, quando a saga só terminou com duas partes finais. Os começos são atraentes, o cenário, charmosíssimo: um luxuoso navio que faz inveja ao Titanic. Festas, bailes de máscara, homens e mulheres lindíssimos, e tudo vai se repetindo.
É uma verdadeira salada de frutas. O leitor pode aprender a fazer em casa. Uma colher de Titanic, mais meia colher de chá de 007 vs Golden Eye, e bater bem com bastante tensão — e energético, porque a série voa, às vezes sem rumo.
No entanto, o bom elenco é o triunfo da narrativa. Eva é Ivana Baquero, personagem que muito lembra Lídia (Blanca Suárez), de As Telefonista, que por sua vez lembra a jovem advogada de Gran Hotel, Maitê Ribelles (Megan Montanajer). O par romântico muda neste final fervilhante, Jon Kortajarena, que faz o marinheiro Nicolás, enfim passa o bastão para o ator brasileiro Marco Pigossi, que interpreta um agente do serviço secreto britânico. E sobrou até para o querido Ayala... O personagem do detetive interpretado pelo veterano Pep Antón Muños, em Gran Hotel, tem sua versão má no navio.
Ayala volta como Dr. A explicação não convence, seria ele filho do investigador que roubou a cena em Cantaloa, ao lado de Júlio Espinosa (Yon González) e seu fiel escudeiro Hernando (Antonio Reyes). Pep é um ator de primeira linha, com experiência em teatro musical, tendo também carreira como um dos mais prestigiados dubladores da Espanha. Uma pena seu personagem ser menor. Espero que ele volte, algum dia, quem sabe, com uma série só sua, um digno retorno do detetive Ayala, como protagonista — seu devido lugar.
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