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Em busca da harmonia, arquiteto italiano fez ode à figura da madona em Mãe

\\ ARTE

A obra tem cerca de 400 cm de altura, é feita em um único bloco de mármore branco, quase como um obelisco, foi lapidada com sutileza, deixando a escultura com uma estética limpa

Aline Aliciona Paulino de Moraes*, colaboração para Frentes Versos

MATERNAL. Obra está no coração da cidade de São Paulo. (Imagem/Commons)


Mãe é uma escultura do artista italiano Caetano Fraccaroli, feita em 1965, e implantada no Parque Buenos Aires em 1970, no bairro de Higienópolis. É uma escultura em mármore branco, localizada no meio do quinto degrau circular de concreto. Esta base circular onde está a escultura fica localizada no ponto mais alto do parque que, por consequência da obra, ficou conhecida como “praça das mães".


Caetano Fraccaroli nasceu em 1911 em Verona, Itália, chegou ao Brasil em 1929; havia estudado na Escola de Belas Artes de Verona e no ateliê do professor Montini. Em São Paulo, teve aulas na oficina de Helio de Giusti, suas primeiras obras datam de 1930, “Jovem Bororo” e “Potro”. Participou de salões de artes, bienais e concursos, também foi professor em diversas instituições de São Paulo, como a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) onde lecionou nos cursos de Plástica e de Sequência de Comunicação Visual.


"Mãe" é a representação de uma mulher que segura seu bebê, como o nome da obra indica, seu filho. A obra tem cerca de 400 cm de altura, é feita em um único bloco de mármore branco, quase como um obelisco, foi lapidada com sutileza, deixando a escultura com uma estética limpa. Sendo a silhueta de uma mulher que com os braços e joelhos semi-flexionados acalenta seu bebê, dando à obra um aspecto de angelical de proteção.


A parte traseira da figura é totalmente lisa, sem detalhes de um corpo humano real, uma forma mais arredonda, com uma curvatura do topo representando os ombros curvados da mulher; chegando em sua cabeça, temos uma aproximação mais detalhada de uma representação de cabelo feminino, o artista a esculpe deixando a forma de um cabelo em penteado para trás; já os volumes para representação dos tufos de cabelo têm aspecto mais claro: seu rosto, olhos, boca, nariz, emergem no mármore sutilmente. O autor opta novamente apenas por moldar as linhas e os volumes na fisionomia sem muitos detalhes.


Seu bebê possui menos detalhes ainda, podemos visualizá-lo apenas em uma forma redonda, de sua pequena cabeça, seu corpo fundindo-se ao corpo da mãe e suas grandes mãos desproporcionais, porém com detalhes mais profundos de dedos reais. É possível visualizar com nitidez as formas dos dedos e seus respectivos tamanhos, com unhas e representações de marca de pele e articulações.


As mãos da mulher são a parte que possui mais destaque e verossimilhança com o corpo humano, exceto pelo tamanho. Seu tamanho desproporcional oferece um efeito estético de afeto, cuidado, proteção... Características que uma mãe possui. O detalhe do bebê integram-se em sua mãe, remete ao espectador que a mãe está em volta de uma manta para cobrir seu filho, já que em todo comprimento da escultura não há traços do seu corpo, apenas a silhueta. Nos dá uma impressão de intimidade, sentirmos o que sentiríamos ao ver a cena dentro de uma casa: uma mulher ninando o seu filho.

A criação da obra e sua implementação partiu do concurso da Diários e Emissoras Associados de Assis Chateaubriand, o concurso em questão foi comissionado pelo jornalista Edmundo Monteiro, que tinha como proposta homenagear a mãe brasileira, o qual Fraccaroli venceu. A principio Fraccaroli desejava que a obra fosse instalada no gramado da parte mais baixa do parque, como se “surgisse na terra”, porém acabou sendo instalada na parte mais alta numa base de concreto.


São 5 andares de concreto em formas circunféricas que vão diminuindo de tamanho ao se intercalarem, o primeiro degrau com aproximadamente 20 cm de altura e os demais degraus com aproximadamente 15 cm. O primeiro andar possui chão de terra e grama, com alguns módulos circulares em concreto, onde as pessoas caminham até o segundo andar, o segundo andar é totalmente de concreto com acabamento de pedras portuguesas brancas, o terceiro a mesma coisa, porém com pedras portuguesas vermelhas, o quarto degrau é igual ao segundo, já o quinto degrau de circunferência menor é onde está fixada a obra, possuindo no chão um acabamento em pequenas pedras com aspecto de jardim. Esta base e toda a 'praça das mães' onde ela está situada possuem referências do paisagismo francês organização e harmonia geométrica.


A base oferece um efeito de pedestal, pois eleva a escultura, colocando a grandeza e centralidade da ''Mãe'' e da obra no espaço, ela convida os visitantes a irem de encontro com a escultura da ''Mãe'', andar envolta dela, interagir, brincar... ser seu filho.


As referências de Fraccaroli foram as teorias do neoplasticismo de Mondrian e da Gestalt, que legitimavam a abstração na arte e foram os pilares de grande parte de seu trabalho. A partir disso, o artista pretendia trabalhar com valores universais da percepção e da organização visual da forma.


Mondrian foi um expoente do modernismo na Europa, sua teoria visava o máximo de simplicidade das formas e cores, Fraccaroli dizia: “Mondrian, para mim, é o maior artista plástico do século XX, pois chegou ao máximo da expressão plástica pura, independente de seu significado".


O estudo da forma e da percepção esteve presente em todo o modernismo, a ideia de “subtrair formas e deixa-la mais dinâmicas”, surgindo a partir do fauvismo, onde a cor terá papel principal para o desenvolvimento das formas e também o cubismo, com referências da arte africana que prioriza as linhas, geometrizando.


A Gestalt, psicologia da forma, também foi uma referência para o artista, é uma concepção sobre a percepção visual, criada em 1910 por Max Wertheimer e aplicada por integrantes da Bauhaus. Eles defendiam a existência da forma ideal, a que possui uma melhor configuração. Segundo o artista, ele tomou conhecimento dessa teoria pela sua esposa psicóloga, Marina Martins Rodrigues, durante uma reunião de estudos promovida por ela, na casa dos dois.


Podemos notar essas referências na escultura, a intenção de uma limpidez e de uma forma mais “prática”, a obra oferece uma pureza estética e uma ambiguidade de leituras, exatamente por essas técnicas descritas acima.


A escultura “Mãe” permanece intacta no mesmo local até os dias de hoje e atinge o objetivo proposto: torna o ambiente mais bonito e acolhedor para quem visita o parque e a cidade de São Paulo. Em 1988 foi criada a pré-escola Monteiro Lobato que funciona ao lado do parque, onde estudam crianças até 4 anos de idade, atrai muitos pais e filhos para o parque, gerando interações com a obra "Mãe", sustentando o objetivo proposto na criação do ambiente.

"Mãe" dialoga com o Parque como um todo e com o público que o frequenta, gerando fruição, reflexão, interação, até mesmo diversão. Colocando a posição social da mãe em evidência e homenageando-a.


*É aluna do curso Ante, História, Crítica e Curadoria da PUC-SP


(Os textos de colaboração não expressam necessariamente a opinião da Frentes Versos)

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