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Um Poema de Luiz Ruffato sobre o confinamento

\\ POEMÁRIO


Por Luiz Rufatto, Especial para Frente & Versos


"Morning sun" (1952), Edward Hopper.

Exilado entre as quatro paredes do meu quarto

Tendo por única companhia

O ancestral silêncio dos meus gatos

Acompanho imperturbável

O naufrágio lento do imenso barco

Que outrora eu chamava utopia


Sei que por detrás das cortinas da janela

Há rangidos, gritos, alvoroço

Mas meu corpo se recusa a ir até ela

Pois sondar o insondável

Não traria de volta o meu querê-la

E aguardo calmo a água me alcançar o pescoço


Eu idealizei futuros impossíveis, até quis

Abraçar as multidões, amar o estranho

Mas tudo que aqui finquei, toda raiz

Mostrou-se frágil, inviável

Percebo tarde demais que daquele país

Nada mais resta, nada ficou, nem mesmo o sonho

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