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Com tradução de Milton Hatoum e Samuel Titan Jr., 'Três Contos' volta às prateleiras com boa edição

\\ LIVROS


Três contos de Flaubert mostram outra face do escritor de Madame Bovary e renovam a beleza da narrativa breve francesa.


Por Giovana Proença



O autor Gustave Flaubert. Imagem: Nadar.

Inovador e escandaloso, o nome de Gustave Flaubert é automaticamente associado a publicação de seu mais notório romance, Madame Bovary. Inaugurando o realismo na literatura, as aventuras de infidelidade de Emma Bovary chocaram a sociedade francesa e o livro foi acusado de atentar contra a moral. A força da obra, que levou ao surgimento do conceito de bovarismo, eclipsa outras faces literárias da produção do escritor. Três contos, publicado no Brasil pela Editora 34, ostenta uma nova peculiaridade da vastidão da escrita de Flaubert, apresentando um ideal de elevação da prosa em língua francesa em três belas narrativas.

O trio de contes de Flaubert são narrativas distintas, que transitam da antiguidade até os tempos contemporâneos do escritor. “Um coração simples” conta a jornada de Felicité, eterna disposta a depositar seu amor e serventia, porém as adversidades enfrentadas colocam em xeque a felicidade para qual o nome a destinou. “A Legenda de São Julião Hospitaleiro” é uma releitura da existência do santo em termos do Oedipus christianus, a figura trágica de Édipo reaproveitada em moldes cristãos. “Herodíade” apresenta as iguarias do banquete de Heródes em nova perspectiva do episódio bíblico.

Apesar das distinções nos enredamentos das tramas, noções relacionadas à santidade e a renovação de elementos da tradição cristã são recorrentes nos Três contos. A sacralização é discutida a partir da oposição e do acompanhamento com a brutalidade e as diferentes formas em que ela se manifesta. A humanização, a animalização e seus limites tênues também são colocados em questão por Flaubert, a presença dos animais repete-se em relações de amor e embate com a figura humana.

Para além do enredo, as nítidas descrições e os contornos que os objetos adquirem dentro dos Três Contos colaboram para a expressividades das estórias. A habilidade técnica de Flaubert na composição da prosa cria narradores vívidos, capazes de imprimir ritmo e estilo próprios para o desenrolar melodioso dos contos. Nada parece estar fora do lugar, conferindo harmonia, melhor adjetivo empregado para designar as narrativas reunidas pelo autor francês no volume.

A tradição da narrativa breve francesa, enraizada com La Fontaine e Charles Perrault, passando por contemporâneos como Guy de Maupassant, deve reservar um espaço especial para Gustave Flaubert e sua naturalidade ao vestir os diferentes ares de destacados narradores. Na edição brasileira, as cartas anexadas do autor nos oferece um vislumbre da confecção dos Trois contes. Expondo novas facetas de sua produção literária, Flaubert provoca nova transgressão aos moldes de Madame Bovary ao elevar o ofício de contista e a literatura francesa ao nouveau niveau.


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TÍTULO: Três Contos

AUTOR: Gustave Flaubert

EDITORA: Editora 34

ANO DE EDIÇÃO: 2019

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