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Vogue: 30 anos do hino de Madonna que combinou o glamour da Hollywood clássica com estilo à Harlem
Por Giovana Proença
Imagem: Vogue (Madonna) Sire Records/Warner Bros.
“Come on, vogue / Let your body move to the music", entoa Madonna no refrão de Vogue, última faixa do álbum “I’m Breathless”, que completa 30 anos de seu lançamento e figura ainda hoje como a quinta mais ouvida da cantora na plataforma de streaming Spotify. Com uma melodia dance-pop, seguindo tendências de subgêneros da música eletrônica e do disco, Vogue reinou como trilha sonora dos bailes em casas noturnas que marcaram épocas.
Três décadas antes de Rupaul’s Drag Race, seriado que coloca em voga a arte drag, conquistar seu quarto Emmy, Madonna assinalou sua reputação ousada e inovadora ao produzir um single inspirado na dança vogue, surgida na década de 1960 e popularizada na década de 1980 pelas comunidades negras e a então chamada GLS, sigla pré- LGBT+ ‘Gays, Lésbicas e Simpatizantes’, nos bailes que aconteciam no bairro do Harlem.
Os holofotes foram então colocados no estilo de dança marginalizado, cujo nome veio da conhecida revista de moda por ter em seus movimentos as poses realizadas por modelos em ensaios. As competições de dança ocorriam nas houses de voguing, sendo a primeira fundada pela drag queen Crystal Labeija em meados da década de 1960. Reforçando-se pelo caráter de resistência, uma vez que eram espaços de (sobre)vivência da comunidade e cultura queer no auge de sua marginalização, o ritmo reverberou outros guetos tornando-se uma tendência na cultura pop de décadas após o estouro.
Para além de seu contexto, a canção recebe destaque por sua letra composta com caráter libertário e fazendo apologia à cultura das boates, que permearia toda sua década. Entretanto, o grande triunfo de Vogue vem do clipe, ao “Strike a pose” decretado por Madonna, os dançarinos iniciam a coreografia, ritmada pelas poses e linhas do voguing, filmado em preto e branco, o clipe que atingiu 100 milhões de reproduções no Youtube - sem contar o frenesi que causou ao passar na televisão em seu lançamento - é perpassado por referências à Art Déco e à Hollywood clássica.
“They had style, they had grace”, afirma a letra da canção ao citar um desfile de astros eternizados pelo seu glamour e status, como Grace Kelly, Marylin Monroe, Marlon Brando e Jimmy Dean. A grandeza do single, de influência máxima na cultura pop e que causa comoções até hoje – a série Pose, que retrata a cena LGBT nas décadas de 1980 e 1990 teve sua segunda temporada, lançada em 2019 focada no impacto do lançamento da canção - pode residir na triunfal mescla entre símbolos de renome no imaginário cultural e a forte comoção da dança marginalizada que nomeia a atemporal Vogue. Nas palavras de Madonna “It makes no difference if you're black or white /If you're a boy or a girl /If the music's pumping it will give you new life/You're a superstar, yes, that's what you are, you know it”
ERRAMOS: NA VERSÃO ANTERIOR DO TEXTO, a palavra 'Strike' saiu grafad de forma errada. Foi feita correção no dia 08/04 às 00:53.
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