\\ CINEMA
Em Jonas, jovens têm vida abalada em um drama rápido, mas faltam explicações
Por Matheus Lopes Quirino
A curiosidade matou o gato. Se não, ficaram as sequelas da paulada. Parece que o jovem Nathan (Tommy Lee Baik) foi apanhado. Ele é um menino curioso e briguento, cheio de si. Ao chegar na nova escola, conta uma história cabeluda para impressionar seu companheiro de classe, o tímido Jonas (Nicolas Bauwens). A cicatriz em seu rosto é o que lhe dá personalidade, diz a mãe, enquanto termina um cigarro horas antes de parir o segundo filho.
Dezoito anos se passam do encontro inicial, o filme abre com o Jonas transtornado em uma boate gay versus o seu eu de 15 anos recatado, de camisa da banda Nirvana, All-Star descendo as escadas de sua casa no dia em que a princesa Diana e seu parceiro Dodi Al Fayed morrem em decorrência de um acidente de carro. De repente, é 2015. E é por este Jonas (Félix Maritaud) abruptamente mudado por causa do que aconteceu em 1997, que o espectador sabe aos poucos o que houve muitos verões antes, na boate Paradise Boys.
O filme engrena num estalo. Jonas é um loser, arranja brigas com os homens da boate Boys, é expulso de casa pelo namorado, não tem o ombro dos pais, está machucado, sem dinheiro, triste e abalado. Vaga pelas ruas marcando encontros com usuários do Grindr. Ele sempre volta a Boys; é como se ele ainda sentisse forte as reminiscências que dominam sua mente de traumas a ver com Nathan. Em suas palavras, ele busca algo que não existe.
A interpretação de Félix Maritaud mantém os olhos tristes da criança que sofria bullying no ginásio, somente afagado pela relação com Nathan. O garoto desperta de seu estado frígido e catártico, a lembrança desse verão fica em um Game Boy, joguinho portátil febre dos anos 1990. Antes da tragédia acometer seu amigo, Jonas ganha o brinquedo que o acompanha pela vida. É a reminiscência materializada.
Rápido, previsível e discreto, Jonas é um filme xoxo, mas não ruim. Quando se espera mais, pronto: já está dado ao espectador. A trama corre rápida, não há muito o que desvendar. No entanto, a tragédia é diferente. Ele volta ao passado, busca tentar entender o que sente, juntar os fragmentos e cacos de vidro de um porta-retratos que nunca teve de fato. É um filme repleto de tristezas, como é a vida, às vezes.
Abalado, ele segue as pistas às mesmas boates, aos mesmos lugares que lembram o antigo amigo. O protagonista cai aos prantos com sinceridade. Tem seu joguinho pifado no final do filme. Está completamente perdido. A música do filme vai bem, os olhos tristes é o que salva o filme da alegria, e ainda bem.
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