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Através dos olhos azuis, Toni Morrison questiona figura de linguagem do ideal de beleza

  • Foto do escritor: Frentes Versos
    Frentes Versos
  • 5 de ago. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 18 de ago. de 2020

\\ LIVROS

A trama dá voz a temas constantemente silenciados, porém necessários, principalmente nos dias de hoje, com ondas de protestos sobre a importância de vidas negras eclodindo ao redor do mundo.

Por Sara Beatriz Rodrigues, colaboração para Frentes Versos


A escritora Toni Morrison.

Para alguns, o ditado se prova verdadeiro: a beleza está nos olhos de quem vê. Para outros, a beleza consiste em ter olhos azuis. O romance O Olho Mais Azul, escrito pela vencedora do Nobel Toni Morrison conta a história de Pecola, uma menina negra retinta que era considerada feia pelas outras pessoas - e por si própria - e sonhava em ter olhos azuis para ser, mais do que bonita, amada e aceita.

A maior parte da história é narrada por Cláudia, uma mulher negra que tenta recuperar o que ocorreu durante sua infância na primavera de 1941. O romance é construído através de recortes das histórias das personagens, com várias digressões ao longo do livro. Através desses flashbacks, Morrison conseguiu trazer a visão de que ninguém é só bom ou só mal, de modo que vilanizar alguns personagens por suas ações, no mínimo duvidosas, se torna extremamente difícil, uma vez que vislumbramos os abusos, exclusões, violências e sofrimentos que carregam.

A infância de Pecola, Cláudia e sua irmã, Frieda se passa na cidade de Nova Iorque, onde as personagens e o leitor percebem nitidamente a diferença de tratamento que os professores e até suas próprias mães endereçam a elas, meninas de pele escura, e as elas, meninas loiras de olhos azuis ou até mesmo negras de pele mais clara. Claudia menciona que não sente ódio pelas meninas de olhos azuis, mas sim o que tem por trás; o porquê essas meninas recebem olhares mais afetuosos do que ela. "A Coisa a temer era a Coisa que tornava bonita a ela e não a nós."

"Lançada dessa maneira, na convicção de que só um milagre poderia socorrê-la, ela jamais conheceria a própria beleza. Veria apenas o que havia para ver, os olhos das outras pessoas." Construída cheia de pequenos detalhes, ler a história composta por Morrison é como ser transportado numa viagem no tempo. Sentimos alívio, medo, sofrimento e pequenas alegrias junto com os personagens. Percorremos a rua da Broadway e visitamos Kentucky e Geórgia do século XX.

A trama dá voz a temas constantemente silenciados, porém necessários, principalmente nos dias de hoje, com ondas de protestos sobre a importância de vidas negras eclodindo ao redor do mundo. Todos deveriam ler O Olho Mais Azul, que além de tratar do racismo, ressignifica os motes como a autoestima de pessoas negras, feminismo negro, abuso infantil, entre outros que ainda refletem os dias atuais e são levantados pelo olhar minucioso de Toni Morrison.


***

TÍTULO: O Olho Mais Azul

AUTOR: Toni Morrison

EDITORA: Companhia das Letras

ANO: 2019









(Os textos de colaboração não expressam necessariamente a opinião da FV)

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