\\ ARTE
Sem fugir a forma do ser, alma personifica paixão
Por Vitor Hugo Gonçalves, Colaboração para Frente & Versos
(imagem/reprodução)
Sobre um palco, à meia luz, a alma humana expõe-se ao mundo. Deliberadamente, tomando corpo findável qualquer, manifesta-se numa exteriorização fascinante; é a arte em seu estado mais puro, exibindo seu vigor em amenos movimentos carregados de esforço. Baila, acatando magicamente concedido dom, transportando a plateia para um êxtase divino. Olhares fixos no flutuante dinamismo, capaz de concentrar em si a paixão em sua essência. Terminada a sinfônica melodia, corpo estagna, público aclama e alma sorri; mais uma apresentação em que a poesia se fez movimento… encerrou-se ali mais um espetáculo de dança.
A encantadora cena, antecipadamente aqui descrita, revela digna ação recorrente na Escola Livre de Dança. Mantida pela Secretaria de Cultura de Santos, o instituto abrange em seu cronograma variados gêneros, como: ballet clássico; jazz; dança contemporânea; sapateado americano e irlandês; aulas de canto, história da Dança e anatomia. Como elucidado por Patrícia Ricci, professora e coordenadora da instituição, a Escola é, maiormente, preparadora; “temos hoje três Companhias de Dança, composta pelos próprios alunos… Infantil, juvenil e adulto. Jovens que representam a escola em competições nacionais e internacionais. Somos premiados por grandes festivais”. Com intensa personalidade e perfil concebido para visionárias graduações, a ELD tem a dança como uma manifestação substancial da arte, perseverando na compensação das dificuldades pelo o amor e enobrecimento de uma cultura universal.
O fascínio contido em cada aula, ensaio ou apresentação transparece no ideal de perspectiva particular dos alunos. A dança funde-se, de fato, à alma, e o corpo passa a ser apenas utensílio regido por força maior: “A dança é, em meu parecer, transformação. É tudo, o tempo todo… é o que me sustenta. Nos oferece a possibilidade de constatar, emergir sensações diferentes em cada movimento. O bailarino é como um ator que vivencia seus personagens; é, verdadeiramente, um artista do corpo”. Eleva-se a um estágio enigmático, divergindo da satisfação gratificante gerada por outros esportes. Contem-se nela a preciosa chave racional emancipadora, resolução maior que difere o homem da mediocridade de existir, levando-o, assim, a viver – na mais nobre concepção; atividade sensível ao corpo e libertadora à razão. A dança é, reiteradamente, arte autêntica.
Abrem-se as cortinas. Plateia, ansiosa, espera pelos delirantes e impetuosos efeitos que sentirão nos instantes próximos. Corpo rende-se e alma eleva-se. Novamente a razão renuncia a regência para, nessa ocasião, ter como mestra domadora a emoção. Um melancólico lá menor é ouvido por toda a extensão do teatro. Aos olhos do mundo, a paixão em sua essência… inicia-se ali mais um espetáculo de dança.
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(Os textos de colaboração não expressam necessariamente a opinião da F&V)
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