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[Resenha] Iminente sucesso, “Me chame pelo seu nome” é o romance da vez de André Aciman

  • Foto do escritor: Matheus Lopes Quirino
    Matheus Lopes Quirino
  • 27 de jul. de 2018
  • 3 min de leitura

Atualizado: 10 de abr. de 2020

\\ LIVROS


Repleto de digressões, angústias e felicidades, romance apresenta os devaneios de um jovem ao se iniciar na paixão 


Por Matheus Lopes Quirino

(Illustração de André Aciman por Kit Mills/ reprodução)

Parecia mais um verão daqueles em que o jovem Elio ficaria imerso nos marasmos do mundo intelectual da bucólica Itália, em 1983. Porém, bastou dividir alguns cômodos da casa de veraneio com outro tutorado-hóspede de seu pai – o sr. Perlman, um mecenas da cultura e professor universitário – para aquele verão tornar-se memorável.


Inicialmente ressabiado pela presença de Oliver, o hóspede, o garoto, portanto, descobre-se n’uma acentuada busca pelo auto entendimento que, conforme os caminhos dos dois se cruzam pertinentemente, os protagonistas passam a viver esses ensejos de forma conjunta – cada um a seu modo, claro.


Além das casualidades de um jovem cosmopolita de criação liberal – com senso crítico ímpar, vale-se muito dizer –, Elio é acometido por um jogo de flerte e, inicialmente, por uma blindagem emocional aos trejeitos e provocações do americano – que se conserva ao primeiro mistério desta história. Logo a entrega é recíproca, dando-se caminhos percorridos até lá, seja de bicicleta, a pé, aéreos, nos itinerários daquela história.


Dá-se início a um processo de envolvimento delicado, introspectivo e enérgico, ao passo que os sentimentos de Elio, a conta gotas, desaguam no caminho de Oliver; o motivo para tanto mistério, ressentimento, liras e epístolas lamuriosas resulta dos devaneios do garoto, trepidantes entre a própria compreensão e condição de sentir-se acometido, deixar-se à deriva de sua própria maré. No amor não se escolhe.


E as tomadas não são nada heroicas. O cotidiano pesa, conforme as páginas do livro são degustadas, dados os banquetes cinematográficos trazidos no romance; o leitor toma-o para si com uma expectativa que vai se inflando aos poucos. Logo, não podendo mais abandonar o enredo da trama, todos excitadíssimos para um “me chame, me note de uma vez”.


Os protagonistas trafegam por seus orgulhos – ambos são docemente profundos e egocêntricos – e passam a se dar ao outro, em finos lapsos de envolvimentos, platônicos, furtivos, literais, literários.


“Me chame pelo seu nome”, de forma sutil e intensa, lança um poderoso antídoto à área geral que conserva a maioria dos romances tipificados como “primeiro amor” ou dramalhões do tipo. A questão central não é o amor por uma faceta oca ou meramente erótica, infelizmente realidade nos açucarados romances teen, o que, definitivamente, o livro passa longe.


Não sendo diabético, louvável característica, é importante ressaltar, como o próprio Aciman afirma, que é errôneo encaixar “Me chame pelo seu nome” como um romance gay, portanto.


A fluidez da sexualidade, sim, é um ponto de debate. Curiosamente, vale ressaltar que a palavra “gay” não é utilizada em nenhuma parte do romance. Portanto, o livro vale-se de requintadas peripécias do amor, sem o respaldo do debate sobre gênero. O envolvimento é a questão, seus rumos, portanto, cada leitor, consequentemente, tem a autonomia inferir o que quiser. A sexualidade dos dois não importa a ninguém – nem ao autor –, a não ser, claro, aos protagonistas.


Exalando tomadas de emoção e suor, recheado de passagens lascivas, tensões inteligentes, abordagens instigantes, os personagens e cenários são curiosíssimos e essencialmente humanizados. Os locais, ademais, desde a livraria local da “vila dos Perlman” a Roma, com suas festas, recepções e as históricas ruas e suas cenas singulares –recheadas de intensões, climas diversos e o traquejo da rapaziada.


Bem arranjado, o romance de formação – inaugurado por Goethe na literatura (o Bildungsroman) – dá o traquejo necessário para as abordagens psicológicas e, à contrarregra do clichê, essencialmente felizes, cumprindo seu papel e fechando-se ao fim do romance – mesmo havendo uma perspectiva de um tempo longínquo, no último capítulo. Fecha-se bem, ao todo.


Os primeiros capítulos são mais longos, bem trabalhados, mixados entre os cantos dos locais, pessoas, e os “cantos” (perspectivas) do próprio Elio.


Certamente esse Bildungsroman proposto impacta não só os meninos, mas todos ali naquele mundo. Vários personagens veem e voltam, há perda, há choro, chegadas e partidas, risos, gritos e sussurros, e diferentes amores – estes percorridos durante as possibilidades que lhe são dadas. E não são poucas.


***


TÍTULO: Me chame pelo seu nome (Call me by your name)

AUTOR: André Aciman 

EDITORA: Intrínseca

ANO: 2018

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