\\ ESPECIAIS
A publicação contou com nomes relevantes da literatura nacional, como Caio Fernando Abreu e Raduan Nassar
Redação, Frente & Versos
Idealizado pelo jornalista, escritor, ex-professor universitário da Pontifícia Universidade de São Paulo e mestre em estudos literários pela mesma instituição, Wladyr Nader é há mais de 40 anos editor e publisher da revista Escrita e suas transformações vividas ao longo de sua caminhada como Escrita Ensaio e finalmente, até sua conversão ao meio digital, em 2010, com o blog homônimo Escritablog.
Na entrevista a seguir, mais uma da série sobre publicações alternativas desta semana, descobrimos um pouco mais sobre a revista que estampa respeito e representa história e presenteia, semanalmente, leitores dos quatros cantos do planeta com cultura cosmopolita, opinião marcante e, acima de tudo, excelente literatura.
Frente & Versos: Como nasceu a escritablog? Foi por mero acaso ou houve algum planejamento prévio?
Escritablog: Em 1968 publiquei meu primeiro livro, de contos, Lições de Pânico. Cismei com a falta de interesse da imprensa e, quando entrei na Folha de S. Paulo, algum tempo depois, procurei chegar à "Ilustrada" e consegui. No jornal, então, passei a escrever sobretudo sobre literatura e cinema. Anos depois passei a cuidar também de filmes na TV .
Tudo isso me levou a criar em 1975 a revista Escrita, que, mensal, durou até 1989, com quase 40 números. Pouco tempo depois, com um grupo de amigos progressistas, de outras áreas, passamos a fazer a Escrita Ensaio, que saía, mais ou menos, de dois em dois meses, e, como a Escrita, passou a ser vendida em bancas em todo o país por intermédio da Abril. A Escrita Ensaio tinha pouco menos da metade da Escrita, em termos de vendas. Então a Vertente Editora, que criei, passou a publicar literatura nacional e estrangeira, além de obras de caráter social.
F & V: Como é planejado o calendário de publicações do escritablog? Há uma periodicidade fixa ou varia de acordo com o número de material disponível para publicação?
Escrita: É mais ou isto: há colaboradores fixos, sobretudo na área de crônicas: quatro mulheres, Eliana Haberli, Elizabeth Lorenzotti, Nanete Neves e Teresa Ribeiro, entre elas, e, entre os escritores, Ricardo Ramos Filho, que a partir do mês que vem terá a companhia de Roniwaler Jatobá.
F & V: No entendimento da Escritablog, qual é o papel social de uma publicação alternativa?
Escrita: É divulgar literatura, sobretudo com no máximo 5 mil pessoas, amigas e amigos, via Facebook.
F & V: Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelo Escritablog e por outras revistas alternativas?
Escrita : Raramente associadas e associados pagariam se quisessem tê-las em papel. A Internet possibilita muita coisa, contudo o dinheiro está curto. Nem de longe, no meu caso, colabora em termos de sobrevivência.
F & V : O campo das Belas Artes (Cinema, Teatro, Música, Literatura etc.)sempre andou de mãos dadas com o jornalismo, sobretudo brasileiro.Não é curioso que de alguns anos pra cá, os principais veículos noticiosos do País estejam dando cada vez menos espaço para essa parceria? Ou isso seria mais um reflexo da eterna “crise” que paira sobre o jornalismo?
Escrita : É mais ou menos isso, nem sempre há outras alternativas para cobrir cultura. Agora, uma das coisas ininteligíveis é por que motivo nosso Concurso Escritablog desperta tão pouco interesse de autores. Com leitores não existem problemas. Não recebemos nenhum texto deles nos últimos seis meses.
F & V : No Brasil, falar sobre literatura dá dinheiro?
Escrita : É difícil. Com a crise das livrarias, então, nem pensar. Quando possível, os novos interessados devem cursar Letras e, claro, Jornalismo.
F & V: Quais tem sido as estratégias do Escritablog para enfrentar período da pandemia? O público da Escritablog tem se adaptado bem às mudanças, se é que houve, ou as coisas se mantêm as mesmas?
Escrita : Não há problemas além daquele do Concurso Escritablog. Gozado é que, quando os leitores não gostam, se manifestam sem problemas. Infelizmente jornais e revistas colocados à venda, no momento, talvez não sobrevivessem.
F & V: Por favor, utilize o espaço desta pergunta para nos contar mais sobre o Escritablog.
Escrita: É importante lembrar que, enquanto a revista Escrita chegou a ter, mensalmente, de 4.000 a 5.000 exemplares vendidos, a Escrita/Ensaio, com vendas inferiores, se dava melhor nas universidades em todo o país. Aliás, muitos dos colaboradores preferiam se tornar assinantes e não receber o que mereciam por suas colaborações. Ah, sim, um lembrete para ficar claro: nossa editora, a Vertente, imprimia 5 mil exemplares da revista Escrita e a Escrita Ensaio, raramente mais do que 3 mil, embora houvesse acontecido algumas vezes. Já a Escritablog é dirigida a 5 mil pessoas.
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