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Monumentos na cidade de São Paulo, para quem?

\\ ESPECIAIS

Monumentos espalhados pelo espaço urbano ou mesmo removidos em depósito, carecem de uma leitura crítica em seu conjunto

Por Raquel Schenkman*, colaboração para Frentes Versos

POLÊMICO. Mascarados, bandeirantes são alvo de campanha de conscientização sanitária. (foto - Governo do Estado de São Paulo)



A cidade de São Paulo possui um acervo de cerca de 380 obras de arte e monumentos em espaços públicos sob responsabilidade da Prefeitura entre bustos, placas, marcos, estátuas e conjuntos escultóricos. Este acervo começou a ser formado no início do século XIX e foi inventariado pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) na década de 1980, mas apenas em 2002 foi constituída uma comissão, ligada ao Departamento, para orientar e analisar propostas de implantação, remoção, restauração e conservação de monumentos e obras artísticas em espaços públicos da cidade de São Paulo, até então dispostos pela cidade mais a gosto político do que com critérios técnicos bem-definidos. Ainda assim, esses monumentos espalhados pelo espaço urbano ou mesmo removidos em depósito, carecem de uma leitura crítica em seu conjunto.


Recém-empossada como diretora do DPH fui provocada a olhar, com a montagem da exposição Chacina da Luz e Monumento Nenhum, concebida por Giselle Beiguelman no Museu da Cidade, para os fragmentos de esculturas resgatadas que fazem parte desse acervo. Encerrada a exposição, voltaram para o depósito aqueles que não eram monumento nenhum, mas as oito estátuas de divindades do Lago Cruz de Malta do Jardim da Luz foram restauradas, no próprio parque, com atividades de canteiro aberto para visitação, por iniciativa do DPH com apoio do Museu da Cidade.


Ainda que decidida pela restauração, algumas perguntas me atormentavam: Qual o significado de recompor essas obras que foram violentamente derrubadas? O que representam essas obras? E as outras desse acervo da cidade? Qual seu sentido no espaço público hoje? A que e a quem, finalmente, servem?



Assim, como exercício acadêmico na universidade – lugar da liberdade de pensamento, afastado do peso da responsabilidade da administração pública – ousei propor aos estudantes do curso de Arte: História, Crítica e Curadoria da Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) um debate sobre o acervo de monumentos da cidade, na disciplina de Oficina de Texto Crítico, no início deste ano de 2020. A ideia era retomar algumas leituras sobre análise e descrição crítica de obras de arte, com direito à discussão de Baxandall, Sergio Ferro, Roberto Schwarz, para escovar a história a contrapelo, procurando compreender, a partir da eleição de alguns monumentos, sobre os processos de sua produção, como foram encomendados, construídos, seu papel ideológico e o que mobilizam. Logo surgiram as questões sobre bandeiristas, sobre raça, representatividade, trabalhadores, imigrantes, monumentos fúnebres, ditadura militar, evidenciando a relação entre crítica e momento presente.


Entramos na Pandemia. Discutimos intervenções e arte urbana que mobilizaram essas obras no espaço público, como as de Eduardo Srur, ou as ações indigenistas sobre o Monumento as Bandeiras. Durante as aulas a distância, os monumentos até ganharam máscaras!


E, em meio ao incrédulo momento político do país, ao fim do nosso curso, ecoaram os gritos sufocados de George Floyd, e com ele ações de derrubada – urban fallism – de patrimônio e monumentos na Europa e nos EUA, em uma enxurrada de discussões e notícias neste momento em pauta.


Assim, a atualidade do recorte e dos ensaios propostos por estudantes de graduação que aqui seguem entre terça e domingo, poderão contribuir para uma reflexão crítica sobre esse acervo da cidade nesse momento oportuno.


*É docente do Departamento de Arte da PUC-SP, arquiteta e mestre em Arquitetura e Urbanismo pela FAUUSP, foi Diretora do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH/SMC/PMSP) e atualmente é Presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP)


(Os textos de colaboração não expressam necessariamente a opinião da Frentes Versos)


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