\\ ESPECIAIS
Por Matheus Lopes Quirino, enviado à Paraty
Meia dúzia: A sexta-feira foi movimentada em Paraty (RJ) não só pela literatura, pois um grupo de moradores da cidade histórica se aglutinou nos arredores da Rua do Comércio e, desde a tarde, protagonizaram um nano protesto a favor do governo Bolsonaro. Com baixa adesão, os flipeiros que passavam pelo local eram tomados por vergonha alheia.
Repelente: Na ponta da praça onde havia ao máximo uma dezena de manifestantes, bancas de livros se encontravam às moscas. E os manifestantes bradavam “Minha bandeira nunca será vermelha” – em reação à vinda do jornalista Glenn Greenwald. Logo depois, a pequena turba se dissipou, até Gleen subir no barco pirata da Flipei.
Canal: Separados canal de Paraty, do lado esquerdo, onde está ancorado o barco símbolo da programação paralela da 17ª FLIP, centenas de ouvintes prestigiavam a fala do veterano jornalista, que recentemente abriu papéis secretos com supostas conversas eletrônicas entre o atual ministro da justiça, Sérgio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol. A fala de Gleen seguiu inflamada, ele expôs as ameaças que anda sofrendo e traçou uma análise sobre a conjuntura política e o cerco midiático. Do lado direito, a mesma meia-dúzia de manifestantes grunhiu. Só isso.
A Terra: “Mariele vive”, “Cadê o Queiroz”, “Ele não”, foram alguns dos motes entonados pela calorosa plateia. A turma ouvia atenta, transeuntes trocavam opiniões políticas, literárias, jogavam conversa fora. Trocavam figurinhas também. Havia churrasquinho, caipirinha, litrão. “Ele não, ele não”, sacudiu o movimento, atiçado pela fala do humorista Gregório Duvivier. Parte da imprensa, sobretudo alternativa, dispôs-se em cima de um ônibus escolar amarelo, desses de estilo americano.
Movimentação: De cima do ônibus flashs estouravam, debaixo de um drone com luzes vermelhas. Nos arredores, tocava Chico e João Gilberto, parceiros com bonés da guerrilha e barbas de diferentes vieses — bagunçadas, bem barbeadas, etc. — acendiam cigarros americanos, enquanto abriam com os dentes garrafas de Cacildes, debaixo dos sovacos: livros. Echarpes, luvas, toucas ornavam com sandálias, shorts e regatas. Frio. Cachimbo da paz. MTST. Esquerda festiva. Índios, Rastafaris, mulheres com bebês amamentados no nu, ali. Gays, argentinos, otorrinolaringologistas de esquerda. Cosplay do Bill Clinton e Zé Celso na tela. “Tira a roupa, tira”.
Galera: O jornalista Sérgio Rodrigues descasca o abacaxi de Euclides. Zeca Camargo tromba com este repórter, ambos atabafados, passa despercebido pela multidão (ambos!). Família Zylberstajn passeava na rua do Comércio com a pequena Irene e Xico Sá, que amanhã estará de papo com Gregório Duvivier e Maria Ribeiro, em debate literário do projeto Você é o que lê. Jornalistas batem as teclas duras dos computadores, correndo, na sala de imprensa. Zé Miguel Wisnik bisbilhota títulos da Cia. Das Letras na Livraria da Travessa, dentre eles, seu Maquinação, sobre a mineração e Carlos Drummond de Andrade, lançado pela Cia., ano passado.
Galera 2: Aqui e acolá Euclides daqui, Euclides de lá. Outros autores florescem em meio às multidões vendendo poesias artesanais em cadernetas de fabricação própria e livretes. Poetas da contracultura mandam rimas no meio da livraria da Travessa. Uns se assustam, outros aplaudem. Missionários pregam a palavra de Deus, Hippies o poder das flores, índios agitam os cocares e chocalhos nas esquinas, meninos cantam em coro simples na rua Lapa. Intelectuais tomam vinho nas calçadas dos bares eméritos do Centro Histórico. A cada esquina, vê-se um conhecido. De São Paulo ou do Rio. Todos se conversam. Essa é Paraty, Euclides é o contorno.
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