[FLIP 2019] Debate pauta um Euclides da Cunha inadequado e paradoxal
- Frentes Versos
- 12 de jul. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 10 de abr. de 2020
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Por Giovana Proença, enviada à Paraty

A sexta feira da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), que está em andamento na cidade carioca entre os dias 10 e 14 de julho, foi suplementada pela profusão de eventos culturais, contando com mesas cuja proposta era debater o autor homenageado, Euclides da Cunha, e sua célebre obra, Os Sertões. A festa ainda traz maior apoio a novas formas do fazer literário, encerrando o dia com uma apresentação de Slam, competição de poesia recitada.
Na Casa Folha, um dos espaços mais frequentados da festa, o destaque foi a mesa “A linguagem de Os Sertões”, mediada por Mauricio Meireles, com os jornalistas Mario César Carvalho e Sérgio Rodrigues. Mais do que a proposta do título, os convidados propuseram-se a desvendar os sertões do caráter multiplamente paradoxal da obra de Euclides da Cunha, que ultrapassando sua linguagem, atinge sua temática e as ideologias propagadas pelo cientificismo e teorias sociais que permeiam o livro, de modo que a Terra e o Homem, partes nas quais predomina a dificuldade e complexidade dos termos científicos, tornam-se elementos essenciais e indispensáveis na compreensão da Luta.
Um dos principais apontamentos da mesa foi a de Euclides da Cunha como um homem definido pela inadequação, de modo que sua principal obra intrinsecamente segue essa tendência, estando no limite da definição do romance, da saga e do ensaio, revelando a multiplicidade da forma. As complexidades estendem-se ao uso das correntes vinculadas a Os Sertões, revelando pensamentos positivistas e cientificistas baseados no determinismo, de modo a revelar certos preconceitos raciais como expresso na célebre frase “O sertanejo é antes de tudo um forte” ao mesmo tempo que o livro funciona como uma retratação da imprensa e dos meios jornalísticos sobre a cobertura do massacre de Canudos, expondo as truculências do exército brasileiro na campanha.
Em síntese, Os Sertões é uma obra marcada por paradoxos que definem-se nas várias facetas do livro, como a dificuldade imposta pelo uso de termos científicos que contrasta com as frases marcantes e diretas no retrato da luta, os preconceitos expressos por correntes filosóficas como o determinismo e a defesa de Canudos na exposição da violência e brutalidade estatal. A expedição traçada na FLIP nos sertões da inadequação e do caráter paradoxal de Euclides da Cunha revelam que o autor foi capaz de produzir um romanesco ensaio indissolúvel de tensões de seu momento histórico como as correntes positivistas e deterministas e conflitos entre militares e a sociedade civil.
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