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Ainda mais underground, Flor do Mal foi fruto da costela do semanário O Pasquim.
Redação, Frente & Versos
De um canteiro underground eram vistos os primeiros brotos da revista Flor do Mal. Mais precisamente em uma cela do quartel de manutenção de armamento da Vila Militar, no Rio, onde encontrava-se recolhida quase toda redação do Pasquim. Para a empreitada, as primeiras ideias aglutinaram-se seguindo inspiração do magnum opus de Charles Baudelaire, ícone do simbolismo francês – e seu homônimo título, o livro Flores do Mal (1857). E depois disso Baudelaire remexeu-se em seu espólio no cemitério de Montparnasse, em Paris.
A insatisfação com a grande imprensa resultou num oásis contracultural e porralouquice em Flor do Mal, embora a publicação tivesse inevitável vida curta, foi sucesso por bons motivos. Ei-los: forma gráfica – de confecção propriamente artesanal, pincelada pela mulher do poeta Torquato Neto, Ana Maria Silva de Araújo Duarte –; acidez inteligente, advinda, muitas vezes, do próprio Maciel, ainda no QG do Pasquim; longas entrevistas – haja vista a copiosa entrevista concedida pelo poeta Haroldo de Campos ao também poeta Hélio Oiticica, em Nova York.
Abscôndita no baú de ácaros da contracultura dos anos 1970, Flor do Mal teve um parto não só prematuro, como relâmpago. Três meses. Na fase de abundância do Pasquim, a parteira do projeto, deu-se a primeira edição em 1971. E cinco semanas depois, atingindo o quinto número do semanário, as flores murcharam de vez.
Dissera Maciel, certa vez, ao jornalista Sergio Cohn do Blog do Instituto Moreira Salles, sobre o processo de pautas da Flor do Mal, uma entrevista preciosa, a qual será reproduzida, cá, uma oportuna deixa, como bem-vindo convite a todos e todas:
“Quando estudantes de comunicação chegam pra mim e dizem: ‘Ah, meu deus do céu, como eu queria ter visto uma reunião de pauta de vocês d’O Pasquim’. Aí eu respondo assim: ‘Nunca houve isso. Nunca houve uma reunião de pauta n’O Pasquim’. O Pasquim era um semanário feito para e por estrelas do jornalismo que estavam insatisfeitos, porque não tinham liberdade nos órgãos da grande imprensa. Então, essa foi a ideia fundamental do Tarso. O Tarso bolou isso. O Tarso percebeu que daria para juntar esse pessoal todo num mesmo jornal. ‘Vamos fazer um jornal, e cada um faz o que quer’."
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